21/12/2017
Normalmente estamos tão mergulhados em nosso pequeno mundo, olhando compulsivamente para o celular, que não vemos nem ouvimos os outros. Pedimos o almoço em um restaurante sem perceber a pessoa que nos atende, sem um cumprimento, um sorriso, sem um gesto de apreciação e agradecimento. Isso ocorre o tempo todo: na loja, na academia, no banco, no estacionamento, no clube, no salão de beleza. Vivemos na mais profunda solidão em cidades com milhões de habitantes.
Como temos familiares e amigos, acreditamos que vivemos em sociedade, que estamos nos comunicando, que somos simpáticos e agradáveis, que amamos e somos amados. Não é verdade. Não vemos nem ouvimos os mais próximos, pois eles estão separados de nós por tudo o que sabemos e pensamos sobre eles. Existe um muro de opiniões e conceitos que nos impede de ver e ouvir as pessoas ao nosso redor. Isso acontece o tempo todo, entre casais, pais e filhos, vizinhos, professores e alunos, entre amigos. Eu e os outros, os outros e eu. Temos interesses comuns ou conflitantes, não nos relacionamos de verdade com ninguém.
Quando praticamos voluntariamente o ato de ver e de ouvir, podemos experimentar o verdadeiro sabor do novo e abrir nossa consciência e nosso coração de uma maneira inteligente e luminosa. A Alma humana vai se revelando em toda a sua complexidade, surgem semelhanças e as diferenças se tornam complementares, pode haver uma irmandade na diversidade. De repente não estamos mais sós sobre a Terra, existe agora uma ligação real entre sopros de vida que vêm da mesma Fonte.
Nessa condição privilegiada sentimo-nos vivos, inteiros, com uma real possibilidade de percepção e de comunicação. À medida que aprendemos a conhecer os outros, aprendemos também a nos conhecer, pois nosso mundo interior começa a se revelar e a se expressar com uma liberdade que desconhecemos em nosso dia a dia.
É uma vivência de expansão sem limites, pois nossa consciência pode ser ampliada cada vez mais e mais profundamente, de paisagem em paisagem, de um nascer do sol a uma noite estrelada, de um bichinho a uma árvore, de uma praia a uma montanha, de um parque a uma catedral. A vida adquire um novo colorido e o mundo se torna um alimento perfeito para a nossa evolução, onde tudo é milagroso.
Carmem Carvalho e Marian Bleier
Grupo Gurdjieff da Granja – GGGranja