21/12/2006
Escritor que é escritor tem uma musa. Quem não tem, inventa. Ninguém escreve um devaneio, ama ou ensaia a solidão simplesmente porque sim. Essa esfera sacro profana se esconde atrás da rendição pecadora de uma silhueta, um perfume e uma sombra. E musa mesmo não se escolhe, se sente. Na sua definição mais puritana, consagrando a antítese de algumas linha atrás, é uma deusa. Mas uma deusa-humana, barroca greco-romana, a multidão em uma só.
Chega à noite pela fresta sorrateira da janela, ali no cantinho esquerdo. A mesma fresta primeiramente designada à brisa da madrugada. Não muito grande, nem pequena em demasia. Uma fresta suficiente para o bafo que sobe do asfalto após uma chuva decretar o verão. E as musas adoram o verão, e as frestas adoram as musas. E eu também adoro, adoro a minha fresta, e adoro mais ainda porque de uns meses pra cá ela existe até quando faz frio.
É, escritor que é escritor não revela sua sombra, grita em CAIXA ALTA aos quatro ventos das entrelinhas. E de silhuetas bem entende o poeta boêmio. Isqueiro, fumaça, copo americano. A caneta palpita e já sabe, o cruzeiro do sul agora é quem determina o norte da poesia.
Parafraseando Vinicius, minha musa é chama. Parafraseando a mim mesmo, amo.