21/08/2014
Lívia Krassuski tem 18 anos de experiência em fotografia profissional de estúdio e, desde 2007, leciona fotografia em cursos livres, de graduação e pós-graduação. Desde o início do ano coordena e dá aulas na Teoria das Cores Foto Escola, na Granja Viana. Em entrevista ao Site da Granja, ela fala sobre o ensino da fotografia e a profissão de fotógrafo na era digital.
Como você e sua equipe analisam as mudanças no ensino da fotografia nessa era do “tudo automático”? Estudar fotografia continua tão essencial como era antes?
Sim, estudar continua fundamental, eu nunca parei de estudar. As câmeras de fato se automatizaram muito, mas citando Adolpho Block, “não é porque você tem uma caneta de ouro que vai escrever um best-seller”. Quem faz a foto não é a câmera, mas quem está por trás dela. Fotografar vai muito além de aprender a regular uma máquina, é essencial desenvolver a percepção, aprender a olhar o mundo de forma diferente e conhecer o trabalho dos grandes fotógrafos. Toda sua vivência e sua cultura refletem-se nas suas fotos, mas é claro que a técnica também é importante, ao dominar seu equipamento, qualquer que seja, você saberá como atingir o resultado que quer.
A fotografia se popularizou tanto com a tecnologia digital que pode ter banalizado a profissão de fotógrafo. Em sua opinião, o que é ser fotógrafo hoje?
A popularização das câmeras digitais fez muita gente achar que poderia suprimir o fotógrafo profissional, por acreditar que é a câmera que tira a foto. Ledo engano, porque a câmera não tem olho nem cérebro. Sob o ponto de vista técnico, atravessamos uma revolução na produção das imagens que ainda não sabemos aonde vai nos levar. A conectividade é a grande novidade do momento, bem como a modelagem em 3D – imagens que parecem, mas não são fotográficas. Fotografar, porém, continua a ser o exercício de produzir imagens que traduzam conceitos, ideias, sentimentos – sejam os do fotógrafo, sejam os de seus clientes. E isso não é tão fácil como parece. O resultado é fácil conferir, basta observar quantas imagens de má qualidade vemos todos os dias na mídia.
Como você vê a produção e o convívio com a fotografia nos dias de hoje, com a tecnologia digital?
Atualmente as imagens chegam até nós principalmente de duas formas opostas, porém complementares: numa ponta, somos expostos a uma enxurrada de fotografias de má qualidade diariamente, devido à facilidade de acesso ao equipamento; no outro extremo, devido ao avanço na manipulação das fotografias digitais (bem como imagens produzidas 100% em computador), convivemos com imagens incrivelmente atraentes, como as capas de revista, que chegam a se distanciar muito da realidade. Esses dois fatores alteraram profundamente nossa percepção das fotografias. Cabe ao fotógrafo saber que tipo de imagem quer produzir e com quem se comunicará com seu trabalho. Mas na hora de decidir que foto fazer existem muitos caminhos, quem não sabe o que quer, não chega lá. E isso independe de equipamento.
Então é possível tirar boas fotos com celulares?
Perfeitamente possível. Qualquer um que se dedique a aprender os conceitos essenciais da fotografia e a praticar bastante pode conseguir boas imagens, dentro das limitações do equipamento, porque observar a luz e a composição no enquadramento não depende da câmera. Os celulares são muito práticos, estão sempre à mão, é tão fácil e rápido compartilhar as fotos com os amigos. A fotografia cotidiana não requer tanta produção, por isso os celulares ganharam todo o espaço que puderam ter. Porém, para qualquer fim onde a qualidade seja mais relevante que a praticidade, os celulares perdem para qualquer câmera.
Com os atuais recursos para melhorar as fotos, como o Instagram, parece que o amador também pode fazer fotos tão boas como um profissional faria, sem ter de se preocupar tanto com a técnica na hora de fotografar. Você concorda com isso?
Independente do Instagram, um amador pode se tornar um ótimo fotógrafo, desde que estude para compreender o que é fotografar. Como toda forma de arte, fotografar envolve sensibilidade e conhecimento técnico. Mesmo profissionalmente, o ideal é conseguir o melhor resultado possível na hora do “clique”, deixando um mínimo para resolver depois. A pós-produção sempre existiu, mesmo no laboratório químico, mas isso não substitui o saber do fotógrafo. Todo o conhecimento necessário envolvido sobre as objetivas, fotometria, composição e iluminação, só para ficar com os principais elementos, continua o mesmo, tanto na fotografia analógica quanto na digital. Fotografar em modo automático é fazer a foto que a câmera “quer”, não a que o fotógrafo tem em mente e está muito mais sujeito a erro do que o amador geralmente pensa. E nem tudo se resolve aplicando um filtro na edição...
Então qual o segredo que faz de alguém um grande fotógrafo?
A linguagem. Conheço fotógrafos amadores avançados que são melhores que muitos que atuam profissionalmente, porque sem ignorar a técnica, ainda conseguem expressar um sentido mais profundo com suas imagens, emocionar. Isso é a linguagem fotográfica, fruto de muito autoconhecimento, de observar o trabalho dos grandes mestres, de muita prática e criatividade. E é isso que procuramos desenvolver em nossos alunos, paralelamente à técnica: fazer com que eles se conheçam melhor, que saibam o que querem produzir com uma câmera na mão.
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