10/05/2024
Por Ana Alcantara
Confesso amar dados estatísticos e ter certa relutância com datas comemorativas, cheias de clichês, repetições e altas doses de consumo. Meu perfil ecofeminista puxa o freio de mão e logo procura uma solução criativa e afetiva no repertório das tecnologias sociais que aprendo no decorrer da minha jornada.
Como posso celebrar a maternidade minha e de minha mãe ao mesmo tempo?
No colégio de freiras aprendi que um dos mandamentos, baixado da nuvem para Moisés, é “Honrar pai em mãe”, e estava ali em letras miúdas “mesmo eles sendo tóxicos.” Posso apostar.
Nas Constelações Familiares aprendi que é preciso dar passagem e agradecer quem chegou antes. Não precisa conviver se não for imprescindível, se te fizer mal ou sobrecarregar algum ente. Só reconheça a Nave Mãe que te trouxe até aqui.
Com meditação percebi que aceitar o que não vai mudar me traz mais Paz que conflitar. Que mães são humanas e que fazem o que conseguem.
Com os círculos de mulheres, participo do poder de reunir mães, filhas, madrinhas, madrastas, jovens, crianças e avós na reverência a todos os ventres que nos trouxeram até aqui.
Com minha Tia avó Zina, senti no meu corpo que para maternar não é necessário ser exatamente uma mãe biológica. Saudades dela que me mimava bastante, que me ensinou a rezar, gostar de ler, massagear, fazer ponto cruz, cantar e jardinar.
Na terapia enxerguei a criança ferida que habita a minha mãe, que um dia ela foi uma menina que passou poucas e boas para chegar até aqui.
Com Ana Vilela em seu Trem Bala absorvi “Segura seu filho no colo, sorri e abraça seus pais enquanto estão aqui, pois a Vida é Trem Bala parceiro e a gente é só passageiro prestes a partir”.
Com os movimentos sociais sempre me surpreendo com a força das mães que mesmo violentadas, se erguem por conta de seus filhos.
Com a ciência constatei que eu já existia no ventre da minha avó. Já que os óvulos da vida toda, se formam no bebê, durante a gestação das avós. Ou seja, minha mãe era um feto e eu já era um óvulo dentro dela.
Com meu parceiro de Vida que é pai solo por conta da viuvez, vivencio o empenho, dores e sabores de um homem que precisa cumprir as multifunções de “Pãe” de adolescente e filho de idoso em um mesmo lar.
Com meus filhos sei o que é ter corações fora de mim e experimentar o mais sublime amor que minha existência me permite.
Para minha mãe Eugênia, uma lembrança na Ecofeira vou comprar, mesmo sabendo que irá esquecer em 2 minutos. Não tem problema, uma das sabedorias da maturidade é aceitar o declínio dos pais e a aproximação com a finitude que vem para todos.
Nós duas ganharemos um “brunch” no dia das mães. Não vou nem entrar na cozinha, nem lavar louça e tão pouco decidir o cardápio. Também não vou reclamar de nada. Só agradecer.
O que vou propor é uma Rodada de Apreciação para todas as pessoas presentes oferecerem para mim e para minha mãe. A pergunta será: O que você aprecia na minha forma de Maternar?
Nessa dinâmica aprendida na Comunicação Não Violenta, não vale interromper, agradecer, pular a vez, acrescentar nada e ironizar muito menos. Se não quiser falar, um abraço de 20 segundos será dado e esse ato possui efeitos terapêuticos comprovados. Cada um tem autonomia para sua declaração e que a voz venha do coração, assim como o abraço. Esse presente nunca mais iremos esquecer.