Avós são para sempre

Estefania fazia sonhos, criava galinhas, tomava cerveja e reclamava um bocado. Anatoli, seu marido e meu avô materno, foi marinheiro e dono da primeira tatuagem que vi. Tudo consertava e fazia magias em sua oficina ao lado da horta com dois ímãs gigantes. Uma casa pequena na zona leste paulistana que tinha cor, aroma e porta de entrada pela cozinha com cortina de plástico verde e meio estranho. Ambos dançavam, ambos se foram e deixaram para mim uma porção de detalhes imensos que me fazem sentir pertencente à história, costumes e jeitão da minha família materna. Meus avós por parte de pai faleceram antes mesmo do meu nascimento e este senso familiar é muito mais embutido e pouco aparente na minha trajetória. Desconfio que a falta de convivência com meus avós tem a ver com isso.

Dia 26 de julho é dia dos avós e não por acaso, dia de São Joaquim e Santa Ana, os avós de Jesus Cristo. Essa data tem origem portuguesa e o intuito é honrar e agradecer a ancestralidade. Foi no ano de 2021 que pela primeira vez foi comemorado o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, data instituída pelo Papa Francisco com o tema mundial: “Dão frutos mesmo na velhice”; um convite para o rompimento dos estereótipos de que os avós e as pessoas idosas em geral não são capazes de realizar coisas novas, ter novos hábitos e serem engajados socialmente.

“Ser avó é a sobremesa da Vida”, disse Mônica Rosales, fundadora da Associação São Joaquim de Apoio à Maturidade, que se prepara para sua envelhescência aprendendo a conviver, sentar no chão para brincar, tocar violão pela primeira vez depois de 60 e, cheia de propósito, colocar muita vida no tempo de pessoas de todas as idades.

A partir desta reflexão dá para se programar melhor. Eu mesma pretendo ser alegre, alongada, curiosa, ativista, tranquila e um porto de escuta para meus filhos, que se o Infinito eterno permitir, também porto para minhas netas e/ou netos. E você? Quais pessoas com mais de 60 anos você admira? O que elas fazem ou são para gerar a sua admiração?

Dados do IBGE nos fazem lembrar que em 20 anos a população idosa no país terá dobrado, que as pessoas têm cada vez menos filhos e que a medicina avança, deixando a humanidade mais longeva. Este mesmo país bate recorde em cirurgias plásticas no mundo, conforme a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), com aproximadamente 1,5 milhões de cirurgias ao ano. A devoção à juventude eterna, tropical e sexy, o idadismo (preconceito com pessoas idosas) e o silêncio sobre a Morte fazem do Brasil um país bem difícil para envelhecer.

Pesquisas científicas mostram que a convivência de diferentes gerações promove melhora na cognição e estado de humor de idosos, e a noção de empatia e escuta para os mais jovens. A troca de experiências dos mais maduros com os mais jovens (e vice versa) trazem o resgate da história pessoal e da comunidade, o fortalecimento de laços afetivos e a transferência de cultura e valores, favorece a construção de uma sociedade mais respeitosa, afetiva e tolerante em todos os ciclos da vida.

Neste dia dos avós, vou olhar para o mar de Anatoli, fazendo a receita dos Sonhos de Estefania, sonhando em ser avó, em ganhar vitalidade e cada vez mais ter amigas e amigos de todas as idades para que possamos juntos, honrar a Vida do começo ao final.

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Neste dia dos avós, vou olhar para o mar de Anatoli, fazendo a receita dos Sonhos de Estefania, sonhando em ser avó, em ganhar vitalidade e cada vez mais ter amigas e amigos de todas as idades para que possamos juntos, honrar a Vida do começo ao final.

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