21/03/2024
por Mauricio Orth
No dia 22 de março de 1992, a Organização das Nações Unidas
(ONU) criou o Dia Mundial da Água. A data é um esforço da comunidade
internacional para colocar em pauta questões essenciais que envolvem os
recursos hídricos.
A Terra é o único planeta do sistema solar com água líquida em
sua superfície. Esse líquido cobre 70% da superfície com oceanos, rios, lagos
etc. Estima-se que existam aproximadamente 1386 milhões de quilômetros cúbicos
de água no mundo, dos quais menos de 3% são de água doce potável.
O que sabemos sobre sua origem?
Uma molécula de água é composta de um átomo de oxigênio e
dois átomos de hidrogênio (H2O). O hidrogênio nasceu no Big Bang, enquanto
o oxigênio é abundante nos núcleos de estrelas ainda mais massivas do que o
Sol. Os marcadores químicos na água dos oceanos sugerem que a maior parte da
água veio de asteroides e cometas que colidiram com a Terra há
milhões de anos. A Água é de fato “extraterreste e universal”.
Água e vida
A água compõe a
maior parte da massa dos seres vivos, sendo responsável por mais de 70% da
massa de nosso corpo. Sua
porcentagem pode variar nos tecidos do nosso organismo (20% nos ossos e até 85%
no cérebro).
Características da
água
A molécula da água
é polarizada. Apesar de ter
carga total igual a zero, possui carga parcial negativa na região do oxigênio e
positiva na região dos hidrogênios.
Moderadora de temperatura
Ela é capaz de absorver e perder grandes
quantidades de calor sem esquentar nem esfriar muito. Como os seres vivos
contêm muita água, essa característica permite que a temperatura de seus corpos
não varie muito durante a entrada e saída de calor.
Outras particularidades dessa “ET”: Ela sobe pelas paredes!
Graças ao fato de a molécula de água ser polar, ela tende a
se aderir a superfícies constituídas por substâncias polares. Chamamos essa
propriedade de adesão. A coesão e a adesão são responsáveis pela capilaridade,
ou seja, a tendência que a água tem de subir pelas paredes de tubos ou se
deslocar por espaços estreitos em materiais porosos. Quando um tubo fino de
parede hidrofílica é mergulhado na água, essa adere à parede do tubo e sobe em
seu interior. As moléculas de água aderidas as paredes puxam, graças à coesão,
as demais moléculas da coluna de água, fazendo-a se deslocar.
Assim, o deslocamento de seiva bruta pelos microscópicos
vasos lenhosos das plantas (das raízes às folhas) acontece e dá vida a uma
planta!
Falando nisso, o que a água tem a ver com as plantas?
Se você bebeu água hoje, é preciso agradecer à floresta.
Pois é, chega a ser um pouco intuitivo, mas a verdade é que existe uma forte
relação entre árvore e água. São as bacias florestais e as zonas úmidas
florestais que fornecem 75% da água doce acessível do mundo. Não por
acaso, uma das maiores preocupações para que a água não se torne escassa nas
cidades é a manutenção da vegetação nativa nas nascentes e margens dos rios, coisa
infelizmente desrespeitada por muitos.
A mata ciliar tem um papel fundamental na preservação da
qualidade das águas pois pode conter erosões, ajudar a manter a temperatura e
a concentração de oxigênio dissolvido.
De toda a água que chega ao solo, uma parte segue para
cursos d’água ou reservatórios de superfície, alimentando assim as nascentes.
Seguindo esta lógica, quando ocorre o desmatamento de árvores perto das
nascentes de rios, não há a recarga de água.
Dom Pedro II – O Visionário
O caso mais conhecido de preservação de mananciais começou
em 1861. O Rio de Janeiro enfrentava uma terrível seca e os sistemas que
captavam água na Serra da Carioca e no Alto da Boa Vista praticamente foram à
míngua.
Foi então que Dom Pedro II resolveu reflorestar a área que
hoje é o parque nacional da Tijuca, reconhecida por ter várias minas e
que, na época, estava desmatada por causa de lavouras de café. Deu-se o início
ao processo de desapropriação para promover o reflorestamento e permitir a
regeneração natural da vegetação. Á água voltou e abasteceu a cidade. A nossa Reserva
do Morro Grande também foi criada dessa forma para este fim, no começo do
século passado. Sem Morro Grande, sem água no Alto Cotia.
A falta de água
O Instituto de
Recursos Mundiais, sediado em Londres, diz que pelo menos em um mês
do ano quase metade da população mundial sofre de "estresse hídrico", que é a falta d'água, seca. A previsão é de que esse número suba para 60% da população
global.
O mapa de risco
hídrico do instituto mostra que a demanda por água está aumentando globalmente
– e mais que dobrou desde os anos de 1960.
Sede
Cerca de dois bilhões de pessoas atualmente não tem acesso à
água potável segura, enquanto 3,6 bilhões não têm serviços sanitários
confiáveis.
Mais de 9 mil pessoas morrem de sede todos os dias,
incluindo cerca de mil crianças. As Nações Unidas assumem que este valor
triplicará até 2050.
A água está cada vez mais em risco no mundo por conta do
desenvolvimento excessivo e do consumo "abusivo" e as crises de
escassez devem se tornar mais comuns. “Estamos caminhando cegamente em uma
estrada perigosa com o insustentável uso da água, a poluição e o aquecimento
climático e que estão drenando o sangue vital da humanidade", disse o
secretário-geral da ONU, António Guterres
Geração de energia
As hidrelétricas são a principal fonte energética do Brasil,
sendo responsáveis por cerca de 63% da energia do país. Durante os períodos de
seca, os reservatórios ficam baixos, o que causa uma diminuição na produção
de energia.
Como consequência, as usinas termoelétricas são ativadas, o
que aumenta a poluição atmosférica e do custo da geração de energia, uma vez
que essas usinas são movidas por gás natural, carvão e diesel.
indústrias
A escassez pode levar à interrupção da produção, à redução
da capacidade produtiva e ao aumento dos custos de operação.
As indústrias que dependem de recursos hídricos para a
disposição de resíduos também podem enfrentar dificuldades na gestão adequada
de seus efluentes, agravando os impactos ambientais.
Redução da
biodiversidade
Com a diminuição
dos níveis de água, muitos ecossistemas aquáticos sofrem danos
irreversíveis, além de
comprometer a vegetação das margens dos rios.
A redução da
biodiversidade não afeta apenas o equilíbrio ecológico, mas também impacta a
pesca e o turismo em áreas naturais, prejudicando a economia local.
Aumento dos riscos
à saúde
A falta de água
adequada para o abastecimento público aumenta os riscos à saúde da população
quando o assunto é higiene pessoal ou manutenção de condições sanitárias adequadas. Além
disso, a falta de água também pode prejudicar o atendimento médico adequado em
hospitais e clínicas, comprometendo a qualidade dos serviços de saúde.
Gestão de Recursos
Hídricos
Em 2010 a ONU reconheceu
o direito à água limpa e segura como um direito humano essencial para
se gozar plenamente da vida e de todos os demais direitos.
O Direito Humano à Água visa garantir a todos acesso
suficiente, seguro, acessível e a valores sustentáveis para o uso doméstico. A
própria ONU chama atenção para o grande volume de água utilizado pela
agricultura e indústria e alerta ao risco de escassez desse recurso no
futuro, defendendo um esforço conjunto para a preservação e gestão adequada
desse recurso.
Como uma onda no mar
A Água é considerada um bem de domínio público. É como uma
praia: é de todos e todos têm que ter acesso a ela. A Lei prevê que a gestão
dos recursos hídricos deve proporcionar os usos múltiplos das águas, de forma
descentralizada e participativa, contando com a participação do Poder Público,
dos usuários e das comunidades.
Olhando por esse prisma, faz sentido a água ter dono? Faz
sentido a privatização dessa gestão?