25/08/2010
A inseminação artificial é um método conceptivo cada vez mais procurado por mulheres e casais com dificuldade de engravidar. Por incrível que pareça, até 20% da população feminina se enquadra nesse grupo, dependendo da faixa etária. O objetivo do método é transpor algum obstáculo feminino ou a melhoria da qualidade do esperma, que por vezes impedem o encontro de óvulo e espermatozóides e a consequente gravidez.
Para tirar as dúvidas a respeito do método, entrevistamos a ginecologista especializada em reprodução humana, Dra. Letícia Taufer, em seu consultório na Granja Viana.
Segundo a Dra. Letícia, às vezes a paciente nem precisa de tratamento, "só com a redução do stress, causado pela ansiedade de engravidar, já é possível se tornar fértil". Além das questões físicas, é fundamental dar a mesma importância às questões psicológicas, pois muitas vezes o problema pode ser resolvido apenas com a mudança dos pensamentos. Para isso, há tratamentos psicológicos especializados em acompanhar esses casos.
Para iniciar o tratamento, em primeiro lugar, é preciso diagnosticar o problema e a partir daí, três possibilidades se abrem para o paciente: coito programado, inseminação artificial ou fertilização in vitro. A escolha de um desses procedimentos depende da natureza do problema de cada paciente.
Mulheres com alergia à sêmen e incapacidade ovulatória, homens que produzem pouco sêmen e têm baixa qualidade de espermatozóides são alguns casos dos pacientes que optam pela inseminação artificial, que ocorre com o processo de indução da ovulação ou da retirada do esperma paterno. Neste último caso, o sêmen passa por uma seleção no laboratório, na qual os melhores espermatozóides são isolados e posteriormente injetados no útero da mulher durante o período de ovulação. O tratamento dura o período de um ciclo menstrual.
A fertilização assistida, in vitro, é utilizada como último recurso pela paciente que não conseguiu engravidar com nenhum outro tipo de procedimento, esclarece a Dra. Letícia. A paciente é anestesiada para a retirada dos óvulos, que são capacitados e fertilizados no laboratório. Aí então os espermatozóides são injetados dentro do óvulo.
"O maior risco para as pacientes que realizam o tratamento pode ocorrer na indução da ovulação para aumentar o número de folículos, que pode causar um hiper estímulo ovariano, mas esse risco é maior em mulheres que possuem ovário policístico", afirma a Dra. Letícia.
A ginecologista orienta que a idade ideal para realizar esse procedimento é até os 38 anos, "quanto mais cedo a mulher fizer, maior as chances de engravidar, porque com o passar dos anos os óvulos vão sofrendo mutação e também podem ser danificados pela poluição e hormônios ingeridos".
Se a inseminação for realizada com o sêmen de um doador, os médicos sugerem que a paciente escolha as características que tenham mais a ver com as dela, "apesar de não ser permitido conhecer o doador, é possível escolher o físico, a religião, os hobbies e a escolaridade", informa a Dra. Letícia.
A Dra. alerta sobre a importância de saber que nenhum tratamento oferece 100% chance de sucesso, há sempre o risco de um aborto. A inseminação artificial proporciona 30% de chances da paciente engravidar, já a fertilização in vitro 50%, se ela tiver até 35 anos, "são as mesmas chances de uma gravidez normal". A chance de engravidar com o sêmen de um doador é a mesma que com o sêmen do parceiro, já com a doação de óvulos, por mulheres mais jovens que a paciente, pode chegar a 40%. Um casal sem problemas tem em média 18% de chance de engravidar por mês.
O órgão público mais preparado para a realização de inseminação artificial é o Hospital Pérola Byington, mas a fila de espera chega a 5 anos, conta a ginecologista.
Uma ação preventiva para evitar a lesão dos óvulos é ter uma vida saudável e consumir vitamina E e C, segundo a Dra. Letícia. Para aumentar a fertilidade, recomenda-se evitar múltiplos parceiros, realização de exames de prevenção, alimentação adequada, prática de exercícios físicos e a tentativa de engravidar até os 35 anos, aproximadamente.
A ginecologista ressaltou que o tratamento de reprodução assistida é individualizado para cada casal. A ansiedade muitas vezes pode ser a causa do problema, portanto, é necessário analisar todo o histórico do casal para chegar a alguma solução. Na maioria das vezes, os filhos gerados por esse processo são muito mimados, então é preciso tomar cuidado em educá-los e na maneira como é revelado o processo de reprodução, "o preconceito depende da maneira como os pais contam e da maneira como os próprios pais encaram o método".
Marina Novaes
Foto: Thiago Torrecilha