30/05/2012
Por Maluh Duprat
Quando falamos em terceiro setor, muitas vezes associamos esse termo a instituições de caridade, um erro grave que precisa com urgência ser corrigido, para o bem de todos! Uma grande figura da comunicação, o publicitário granjeiro Percival Caropreso há anos vem tentando dar um novo sentido a esse conceito, através de seu trabalho inovador e uma carreira brilhante.
Num bate papo gostoso, cheio de histórias e informações preciosas no terraço ensolarado do Battuto Trattoria, do qual é sócio (sua esposa Livia também é empresária na Granja, à frente da Drissée), Percival nos contou um pouco da sua longa trajetória no mundo da publicidade. Dos 35 anos de trabalho formal em comunicação e marketing, 22 deles foram dedicados à área socioambiental, seu salto mais importante: aconteceu no final dos anos 80, quando não se falava em sustentabilidade, mas em responsabilidade social e empresarial. Nessa época, nascia o Instituto Ethos, a Fundação Abrinq, e ele foi se envolvendo nesses movimentos institucionais, paralelamente à agência de propaganda onde trabalhava. No começo dos anos 90, repensou seu trabalho graças à luz que lhe deu o empresário Oded Grajew, de grande atuação no terceiro setor: "Se você tem tanta competência para vender produtos de consumo, por que não usa essa mesma competência para vender causas, movimentos, consciência, capacidade de cidadania, de mobilização das pessoas? E se se acha um cara bacana apenas (!) por ter adotado cinco crianças, fundado o abrigo Casa do Sol e trabalhar voluntariamente para algumas ONGs, não tem idéia do que é capaz de fazer por todas essas pessoas e muito mais se atuasse na mesma escala com que vende milhares de garrafas nos supermercados por dia". Entrou em curso, desde então, a grande guinada de sua vida, quando entendeu o sentido de fundir as necessidades e objetivos de empresas, sociedade civil e meio ambiente.
Em 2005, saiu do mercado formal, e ainda de bermuda e camiseta (seu permanente uniforme de trabalho), esse aposentado que nunca para, arregaçou as mangas e fundou com os também granjeiros Renata Cook e Glen Martins a empresa de consultoria Setor 2 ½. O papa do marketing, depois de tanta estrada, ainda se diz hoje um trainee em uma atividade profissional que não é trabalho voluntário, não é filantropia, nem trabalho pro bono. Sua proposta é mostrar como as empresas e a sociedade civil, com interesses surpreendentemente comuns, podem trabalhar juntas, não somando recursos, mas encontrando um ponto ideal de fusão entre a lógica, o capital humano e ambiental para que juntos eles criem uma dimensão maior do que apenas o negócio, do que apenas a sociedade. Por isso sua empresa chama-se Setor 2½: o primeiro setor é o poder público, o segundo é a iniciativa privada e o terceiro setor é a sociedade organizada sem fins lucrativos (ONGs, fundações etc). Percival faz justamente a ponte entre o segundo e o terceiro setor. O modelo de fusão anterior, do século passado, era o modelo assistencialista, caritativo, modelo que não gera desenvolvimento nem de um lado, nem de outro. Sua visão moderna propõe fundir as competências e lógicas de um e outro setor e ambas saírem ganhando. O foco é a educação, a oportunidade de acesso à cultura. Se a empresa atuar numa sociedade economicamente precária, de um lado terá mão de obra pouco qualificada, e na outra ponta, um contingente de consumidores sem poder de compra. Cabe ao empresário contribuir para melhorar os recursos humanos do setor onde ele atua, dando oportunidades de participação do terceiro setor no negócio, preparando mão de obra, educando, contratando. Isso tem um sentido completamente diferente do que uma visita anual à instituição ou o depósito de um cheque caritativo para ganhar um lugar no céu. Na fusão desses recursos, todo mundo sai ganhando, é essa cultura que o empresário e as instituições precisam desenvolver.
Na dimensão ambiental, também por interesse de negócio, o gestor tem que proteger, preservar e alavancar o desenvolvimento do meio ambiente, pois seu negócio depende de matéria prima que a natureza oferece, gerando lucro de uma maneira limpa, inteligente do ponto de vista de gestão sustentável. A Setor 2 ½ trabalha para empresas que buscam essa fórmula sustentável, através de um diagnostico sensível, uma "escutadoria" sobre o que rola nas entranhas da empresa. Assim, consegue detectar quais suas virtudes potenciais, a proposta original, seu eixo constante e, a partir daí, trabalhar um perfil de responsabilidade e identidade socioambiental para a empresa abraçar, de ponta a ponta de sua produção, orientando para os recursos correlatos que a sociedade civil tem para oferecer. Um projeto ambicioso, mas exeqüível, que envolve, amplia e transforma a maneira de olhar e gerir um negócio, tornando-o... sustentável!
E finaliza: "Sustentabilidade é, na verdade, o conjunto de práticas que utilizamos para conduzir nossa vida, a relação com as pessoas, o micro ou macro negócio, de uma maneira digna, equilibrada e justa. É manter firme o que queremos que dure mais tempo, o Meio Ambiente - O homem e a floresta em pé. Só isso!"