14/06/2011
Divagações na Mário Schenberg sobre comida e profissão...
Trabalho de conclusão de curso (TCC) é sempre um momento tenso para os alunos universitários, e de diversão para quem faz parte da banca. Os primeiros, obviamente esgotados e nervosos, e os últimos, pela lembrança dos bancos da faculdade.
E quando seu TCC é compartilhado com um monte de gente, que não são alunos ou banca? Assim têm sido os finais do curso de Gastronomia da Faculdade Mário Schenberg (FMS), do qual tenho sido convidada a participar, já há algumas edições.
Esta turma de junho de 2011 foi a terceira oportunidade de conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido pela competente e talentosa Lúcia Verginelli, coordenadora do curso, e professores dedicados como Paul Gregson, Sílvia Lotufo, entre outros.
Os laboratórios-cozinha do pessoal da gastronomia da FMS são excepcionais, e por ali percebe-se a ênfase que a instituição dá para a formação prática dos alunos. O TCC dos formandos tem a parte teórica, de apresentação conceitual no auditório, e depois, o momento de mostrar a que vieram, quando os alunos apresentam seus quitutes e delícias, dentro do tema estudado, preocupando-se com a apresentação, ambientação e tudo o mais.
No primeiro ano em que fui convidada, o tema do trabalho era a matéria-prima mandioca, e desde o couvert, a cerveja, o prato principal e sobremesa, tudo que era servido no jantar girava em torno do tema, inclusive uma delicada apresentação de teatro de sombras realizado pelos alunos ao final, sobre a lenda de mani.
Na turma seguinte, o tema foi a comida italiana, e as pastas, vinho, sobremesas, foram servidas por garçons-alunos vestidos a caráter, como personagens da cosa-nostra.
Desta vez, a forma e o tema voltaram a surpreender: a dupla arroz com feijão foi explorada de maneira criativa pelos formandos, e no lugar de um jantar solene, foi compartilhada a experiência com um grande grupo de convidados, que iam servindo-se em cada estação (ou região). Explico-me melhor: o arroz e feijão foram preparados por grupos de alunos de acordo com receitas de cada região do país.
O Norte foi representado pela dupla arroz com tucumã e feijão manteiguinha; o Nordeste apresentou o Baião de Dois, que era feijão de corda com queijo coalho. O Centro-Oeste trouxe o feijão à moda do pantanal (feijão rosinha com linguiça, lombo e repolho) e o perfumado arroz com pequi. No Sudeste, o Tutu à Mineira com arroz ao curry e camarão constituíram-se numa experiência diferente do tradicional. Arroz de carreteiro com feijão tropeiro foram os sabores do sul do país, bastante apreciados neste tempo de frio.
Uma experiência gastronômica final interessante foi o bolo de rolo com doce de feijão, embrulhadinhos um-a-um. Uma delícia em pequenos bocados!
Cerca de 200 convidados estiveram presentes ao evento, inclusive Manuel de Almeida Damasio, o presidente do Conselho de Administração do grupo mantenedor europeu da FMS, a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Damasio entabulou com nossa roda uma conversa inteligente e animada ao final, sobre as características gastronômicas dos dois países, Brasil e Portugal, que além dos laços históricos, possuem em comum um interesse ímpar pela boa comida. Rui Albuquerque, CEO do Grupo Lusófona Brasil, é um grande conhecedor de nossa gastronomia e produtos típicos, e trouxe à conversa questões intrigantes sobre o uso de peixes típicos na alimentação dos brasileiros, não tão valorizados como ingredientes cotidianos.
E assim, mais uma turma de gastronomia da Faculdade Mário Schenberg finalizou seu curso. Trabalho de conclusão de curso é uma delícia - pelo menos para nós, convidados! E também para o mercado da gastronomia, que conta agora com mais uma turma de bons profissionais à disposição.
![]() | Cristina Oka está diretora de turismo da Prefeitura de Cotia. É administradora de empresas, com especializações em projetos turísticos e comunicação e marketing. Sócia-fundadora e atual coordenadora da ONG SELVA. |