27/08/2020
Ah, minha amada natureza, você é MULHER!
Meu vínculo afetivo com estas mulheres donas das florestas começou quando
eu ainda era criança. Na tenra idade, no pantanal mato-grossense, avistava
aquela árvore lá longe... e falava que lá era São Paulo, sempre quis chegar até
lá e cá estou.
O tempo passou e minha relação de amor com a natureza só aumentou.
Observando uma tarde de domingo com o Sol já morninho e o vento leve, algumas árvores
se assanham da raiz à ponta do último galho, outras sisudas inquebrantáveis,
altivas, ostentando um certo grau de superioridade, maturidade, ou talvez
espírito materno e eu não posso entrar na brincadeira, não sou árvore, mas fico
aqui ao lado cuidando dessas meninas, mudinhas, faceiras e pequenas que ainda
dependem de mim para crescer e tornarem-se independentes.
E observo também quando chegam os arquitetos João e Maria, escolhendo seu
galho para construir sua casa, onde a porta de entrada é contrária à chuva, são
muito inteligentes! E tantos outros as visitam sempre e quando estão floridas
então, trocam muitos beijinhos, beija-flor e flor.
Tento ousadamente imaginar o que as árvores diriam se pudessem:
“Ah! Amo meu período de flor, pois tenho certeza que terei sementes que
geminarão no tempo certo, começando como pequenas e necessárias plântulas!”
Vamos ter nossas plantas produzindo frutos se a terra for fertilizada.
Quando os frutos não estão prontos seu gosto amarra na boca, mas quando ficam
coloridos atraem todos os animais que comerão o fruto maduro e saboroso para
dispensarem suas relíquias: as sementes.
Mas quantas aves tagarelas visitam seus ramos, faz bem a companhia dos
bichos, todos eles, os discretos e os afetados, o temperamento dela é solar.
O Sol, a chuva, o frio, o vento, as noites, os dias tudo é muito
importante pra ela que precisa de só isso pra ser plena.
Algumas vezes as amigas deixam suas sementes no berçário junto a suas
raízes, buscando conhecimento e sabedoria para se desenvolver, e tem outras
colegas que jogam pra longe suas sementes, pois perto delas não poderão se
desenvolver com independência, desta forma assegura a perpetuação de cada
espécie.
Você sabia que cerca de noventa por cento das plantas têm nos animais
frugívoros as suas sementes disseminadas em lugares distantes?
Outra artimanha da sábia natureza: algumas espécies da flora são levadas
para longe da planta-mãe em terras boas para germinarem, evitando assim que os
predadores e parasitas que já conhecem sua morada original possam interferir na
criação de novas sementes.
Precisamos cuidar da nossa natureza ou teremos regiões vazias de vida.
Todo este prefácio gigante tem o propósito de fazer uma analogia: À
semelhança da Natureza, nós, mulheres, somos o mutualismo, com nossos ciclos,
estações, nossas luas...
Nossas folhas deitadas mortas ao chão se decompondo fertilizam e informam
a genética herdada para outras gerações...
Com este calor intenso chegamos a parar de florir, com a chuva torrencial
perdemos os galhos e essas adversidades que enfrentamos não nos diminuem: elas
contribuem para que cheguemos à próxima estação mais fortalecidas.
A poda também faz parte do processo de construção e desconstrução de conceitos arraigados, necessária para entendermos que precisamos brotar novamente, recomeçando sempre independente das circunstâncias!
Sejamos árvore na vida, com toda sabedoria para nutrir outros seres e
deixando um legado de boas ações.