14/06/2023
O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Saúde, alerta a população sobre envenenamento por acidente com taturana. Comparativamente, o número de casos no estado de São Paulo é baixo em relação ao resto do país, mas os números dos primeiros três meses de 2023 já representam mais de 70% do total do ano passado. Assim, é recomendado ficar em alerta em regiões arborizadas onde a taturana pode estar presente, especialmente nos meses entre novembro e abril, quando o animal aparece mais.
Quem nunca viu uma taturana?
Em geral, as taturanas, estágio anterior das mariposas e borboletas, possuem o corpo recoberto por cerdas. Algumas que parecem ‘pelinhos’, outras um pinheiro, ainda outras que são completamente cobertas de cerdas.
E uma vez em contato com o nosso corpo desenvolve reação alérgica intensa. O que varia é a intensidade dos sintomas. E embora a sensação seja a de uma queimadura, o que ocorre é uma reação urticária inflamatória.
A maioria dos acidentes com taturanas ocorrem com espécies das famílias Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae.
As taturanas da família Megalopygidae são conhecidas também como taturana gatinho ou taturana cachorrinho, devido à sua vasta quantidade de cerdas. Já a família Saturniidae engloba lagartas portadoras de cerdas cujo aspecto lembra pequenos pinheiros. As taturanas da família Arctiidae são as peludas que comumente vemos.
O que acontece quando tocamos uma taturana?
As cerdas que existem nas lagartas funcionam como um mecanismo biológico de defesa contra predadores naturais. Assim, os contatos com seres humanos são acidentais.
As propriedades urticantes ocorrem pela presença de pelos ocos em cujo interior se encontra líquido urticante secretado por células situadas em sua base, as chamadas células tricógenas. Quando a cerda penetra a pele e se quebra, o líquido exerce sua ação irritante.
Mas não há uma toxina única. Por isso as reações variam. Algumas espécies geram um processo inflamatório. Outras possuem efeitos tóxicos na coagulação do sangue.
Os acidentes, em geral se manifestam por dor intensa imediata, vermelhidão, edema, formigamento, ínguas, necrose superficial cutânea, ulcerações e inflamação.
Caso a pessoa seja sensível às toxinas, ainda pode causar rinite e asmas.
Em raras ocasiões os contatos podem resultar em problemas mais sérios, como arritmias, dor torácica, dispneia, distúrbios hemorrágicos, neuropatias periféricas, choque, paralisia de membros e convulsões. Os principais sinais e sintomas em 90% dos envenenamentos são dor intensa e edema e eritema locais, que não são proporcionais à dor observada.
A dor é muito forte, tem sido descrita por alguns pacientes como:
"ter carvão quente colocado sobre a pele"
"ser acertado no braço com um taco de baseball"
"quebrar um osso"
"cólica renal devido a pedras renais"
É frequente em várias regiões do mundo, especialmente em zonas climáticas tropicais e temperadas, incluindo o Brasil. Aqui, são 3.700 casos reportados anualmente ao sistema SINAN do Ministério da Saúde.
O que fazer em casos de acidente
Lave bem o local com água corrente.
De modo geral, compressas de água fria e gelo ajudam a minimizar a dor.
Não passe nenhum tipo de produto ou medicamento sobre a queimadura. Isso pode piorar o quadro.
Se for possível capturar a taturana, leve-a para ser identificada.
Caso não seja possível identificar a taturana, observe os sintomas.
Em casos de outros sintomas, além de dor intensa, procure um médico.
Taturana oblíqua: A mais perigosa
O Instituto Butantan é o único produtor no mundo do antídoto/soro contra o veneno da L. obliqua - também conhecida como "Taturana oblíqua", que pode ser obtido gratuitamente no Brasil por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Acidentes com essa lagarta são potencialmente muito perigosos. No Brasil, entre 2007 e 2017, foram mais de 42 mil acidentes envolvendo a L. obliqua, sendo 248 casos graves e cinco mortes.
O indivíduo pode apresentar dor de cabeça, ansiedade, náusea, vômito e, menos frequentemente, dor abdominal, hipotermia e pressão baixa. Algumas pessoas podem manifestar sintomas mais graves, como alteração na coagulação e hemorragia nas gengivas, urina ou outras partes do corpo.
A principal complicação é a insuficiência renal aguda (falha nos rins), que pode ocorrer em até 12% dos casos e é mais frequente em indivíduos com mais de 45 anos.
Atualmente, o tratamento é baseado na administração do soro antilonômico, que é obtido a partir do plasma de cavalos imunizados com o extrato de cerdas de Lonomia obliqua. Para obter um resultado mais eficiente, é necessário que o material seja administrado até 12 horas após o contato com as cerdas da lagarta.