18/06/2025
O presente carrega e impulsiona toda a distância do tempo. O tempo é longo e é um só fio. Não é possível ver seu ponto de origem e nem o quanto e para onde ele caminha. No entanto, insistem em dividi-lo no que passou e naquele que o fim ainda está no carretel. Entre eles, dizem estar o presente, a dádiva do instante, aquele que os olhos piscam e ele já assenta num outro lugar nas vidas dos descrentes da linha que trança o cordão único do tempo.
No corpo, se guardam todas as memórias da vida: as felizes e as não desejadas, aquelas que são empurradas, mas não caem no esquecimento. Elas não se vão e seguem ativas em cada abertura dos olhos a orientar o caminhar no mundo que se apresenta ali no diante. São os olhos da memória a guiar o passo seguinte.
Não tenho lembranças de outros, todavia, o corpo velho e encurvado da minha avó, forjado na vida simples e profunda; os olhos sisudos do meu avô, incrustados num corpo leve e meticuloso; o jeito e os gestos do meu pai, que da sua bondade vincula falas fáceis sopradas em causos que imantam ouvidos; o corpo miúdo da minha mãe, que na sua timidez esconde a força de vida e a gestação de seis filhos, estão carregados no meu corpo vivo que forma e direciona os descendentes em seus caminhares necessários.
A crença é que os outros vivem em nós. Que somos constituídos de muitos outros, cada qual com suas histórias em seus fragmentos de tempos a enovelar, trançar e tramar designando aos que chegam no seu tempo contínuo vivido por todos na humanidade. Esta, fincada em cada um de nós, só permanece enquanto as mãos se tocam umas às outras carinhosamente transmitindo memórias, sendo elas os meios que integram o início e o que a humanidade, nas vidas presentes, tem como fim, como crença e desejos, pois todos são partes dela mesma, alinhados e emaranhados na memória dos corpos, no carretel do tempo.