23/10/2025
Mauricio Orth
Nos últimos meses, Cotia tem chamado a atenção das forças de segurança de todo o estado. Em um intervalo de apenas seis meses, a cidade registrou diversas prisões de criminosos foragidos, alguns deles com mandados por crimes de grande repercussão nacional. A ação integrada entre Polícia Militar (PM), Guarda Civil Municipal (GCM) e o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) vem resultando em uma sequência de capturas que colocam o município sob os holofotes da segurança pública paulista.
Os casos mais recentes mostram a variedade e a gravidade dos crimes cometidos pelos foragidos. Em outubro de 2025, a Polícia Civil prendeu na Granja Viana Felipe Avelino de Souza, conhecido como Mascherano, apontado como um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no ABC Paulista. Ele é suspeito de participar da execução do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, morto a tiros em Praia Grande, em setembro. Segundo as investigações, o DNA de Mascherano foi encontrado em um dos carros usados na emboscada — o que reforçou a ligação direta com o crime.
Outro caso que repercutiu foi a prisão do influenciador digital Hytalo Santos, capturado em Cotia em 15 de agosto de 2025. Foragido da Justiça da Paraíba, Hytalo era investigado pelo Ministério Público por exploração de crianças e adolescentes e trabalho infantil.
De acordo com as investigações, o influenciador aliciava jovens para participarem de seus vídeos, oferecendo uma “mesada” entre R$ 2 mil e R$ 3 mil às famílias. Os adolescentes moravam com ele e tinham seus celulares confiscados, para que todo o conteúdo fosse publicado apenas nas redes sociais de Hytalo.
O caso veio à tona após denúncias feitas pelo youtuber Felca, que expôs em vídeos o esquema de exploração. Hytalo foi encontrado em uma residência alugada em Cotia e preso após o cumprimento de mandado judicial.
Além desses, há registros de prisões de traficantes, assaltantes de carga, membros de quadrilhas de roubo a condomínios e até de um homem foragido há 15 anos por latrocínio na Paraíba, detido pela GCM em agosto.
Mas afinal, por que tantos foragidos acabam em Cotia?
Especialistas apontam uma combinação de fatores que tornam a cidade e seus arredores, como a Granja Viana, um refúgio temporário ideal. A proximidade com a capital, o acesso rápido pela Rodovia Raposo Tavares e a presença de áreas de mata e condomínios fechados oferecem tanto mobilidade quanto anonimato.
Segundo o secretário de Segurança de Cotia, Fabrício José Alves Dourado — ou apenas Dourado -, o perfil do município favorece esse tipo de mobilidade.
“Além de fazer fronteiras com 12 municípios, Cotia tem regiões muito diferentes entre si. De um lado, bairros rurais com estradas de terra e pouca iluminação; de outro, áreas nobres e condomínios de alto padrão. Pela sua malha viária, Cotia também oferece muita facilidade de deslocamento.”
Cercania com grandes centros, mas com clima de interior
• Perto da capital: Cotia e a Granja Viana ficam na Grande São Paulo, com acesso fácil à Raposo Tavares e ao Rodoanel. Essa localização estratégica permite estar a poucos minutos da capital, com toda a conveniência da vida urbana — e, ao mesmo tempo, um certo afastamento que facilita o anonimato.
• Ambiente de refúgio: Mesmo tão próximas da metrópole, essas regiões mantêm um ar rural, com áreas de mata, chácaras e condomínios amplos. Esse tipo de infraestrutura garante privacidade e pode até servir como “abrigo perfeito” para quem quer se esconder — com espaço para rotas de fuga e esconderijos discretos.
Discrição e anonimato: um prato cheio
• População variada: A Granja Viana mistura moradores de diferentes perfis, com destaque para as classes média e alta. Isso facilita que pessoas com recursos financeiros — inclusive foragidos — se misturem facilmente, alugando ou comprando imóveis sem levantar suspeitas.
• Condomínios fechados: O grande número de condomínios na região reforça a sensação de segurança e privacidade. Mas o mesmo ambiente protegido pode ser usado por criminosos para se passar por “vizinhos comuns”, levando uma vida discreta e longe dos holofotes.
• Fluxo constante de pessoas: Entre quem mora, trabalha ou visita a região, o movimento é intenso. Esse vai e vem diário dificulta o reconhecimento de rostos e ajuda quem prefere passar despercebido no meio da rotina urbana.
O secretário destaca que o trabalho conjunto entre as forças tem sido fundamental para os resultados recentes.
“O intercâmbio de informações e o uso de tecnologia, como o SmartCotia, estão ampliando nossa capacidade de identificar e localizar foragidos. Hoje, ninguém está realmente escondido por muito tempo”, afirma.
Mesmo diante da geografia que dificulta o patrulhamento, Cotia tem demonstrado avanços. Cotia foi destaque em operações como a “Rastreio”, realizada em maio de 2025, que resultaram na prisão de mais de 670 foragidos em todo o estado, incluindo dezenas na região.
As autoridades reforçam que o município não é um refúgio seguro para criminosos. Atualmente, a operação batizada de “dose mortal”, tem como objetivo verificar a documentação e as condições de funcionamento de adegas, bares e tabacarias que comercializam bebidas destiladas no município.
Com um número crescente de capturas e investigações em andamento, Cotia mostra que, apesar de sua tranquilidade aparente, está longe de ser um “porto seguro” para quem tenta escapar da Justiça.
“A sensação de anonimato pode enganar, mas as forças de segurança estão atentas e com atuação cada vez mais integrada”, conclui o Secretário Dourado.
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