04/06/2025
Mauricio Orth
Site da Granja (SG) - A primeira pergunta que a gente costuma fazer é como que você chegou, como é que você conheceu o Formiga? Como é que foi o convite?
Guido Fecchio (GF) - Então, eu sou Guido Fecchio Neto, de uma família tradicional da cidade. Já disputei outras eleições, até como vice-prefeito. E o Formiga, o acompanho há umas três eleições. Quando ele ganhou, ele já tinha sinalizado que eu vinha para cá. Vim porque eu sou do comércio e gostaria de ajudar a administração do município.
SG - E conta um pouco da sua história do comércio, como é que foi essa história? Como a sua família chegou em Cotia?
GF - Essa história tem uns 100 anos. Meu avô veio para cá, montou uma pequena oficina, montou o segundo posto de gasolina da rodovia, no centro da cidade. Bem na praça da Matriz, tinha duas bombas de combustível. Ele era mecânico.
SG - A rua aqui de Cotia com esse nome, é do avô, do pai ou seu?
GF- Do meu avô, as pessoas pensam que é homenagem para mim, mas eu não morri (risos), meu avô sempre esteve ligado de alguma forma à política. A família fala que eu puxei dele.
SG - Eu estou vendo que eu preciso fazer uma entrevista com o senhor só de história de Cotia (Risos)!
GF- Marcado! Vou me sentir bem à vontade. Voltando, é do meu avô para o meu pai e do meu pai para mim. Teve um momento da minha vida de assumir a parte de guincho. Antes disso eu trabalhei numa farmácia, do seu Aurélio, e antes eu fazia pipa para vender, então eu sempre estive ligado ao comércio desde muito criança. Depois que meu avô morreu, aí eu tive que voltar para ajudar meu pai. A partir dos 15,16 anos eu já assumi os guinchos, minha vida inteira foi o guincho. Sempre acreditei na minha vontade de trabalhar e conseguir as coisas. Estamos seguindo aí a vida, então não tenho medo de desafio não.
Conheço a família do Formiga há muitos anos, conheço o Geraldo, Isabel. Vi a trajetória dele, persistente, teimoso. Eu acho que ele tem essa característica de perseguir um objetivo, e eu também. Eu não conhecia o doutor Ricardo (Ricardo Monteiro, secretário adjunto, presente na entrevista), nós batemos um papo, eu acho que nós temos uma missão aqui. Ele fala chamamento, eu falo missão, porque ele tem o trabalho dele e eu tenho o meu. E a gente veio para cá para tentar mudar a história.
Ricardo é advogado especialista em Direito Empresarial, formado em Contratos, Recuperação de Empresas e Falência e em Sustentabilidade Corporativa e Práticas ESG.
Ricardo Monteiro (RM) - Essa dialética é muito boa porque o Guido tem uma linhagem tradicional da cidade. Eu vim de fora, aprendi a gostar e fazer negócio em Cotia, baseado na cultura que eu trago de São Paulo. Então quando se soma essas duas maneiras de enxergar, o resultado é o melhor possível, porque ele enxerga como a história veio e eu enxergo quais são as dificuldades de quem veio de fora e ainda assim conseguiu se estabelecer.
GF - Estamos aqui para fazer o nosso trabalho, deixar um legado, porque eu acho que é isso que é importante na vida pública. Isso aqui não é nosso, é do empresário, não importa o tamanho da empresa dele. Tem muito empresário que chega em Cotia que nunca entrou aqui. E eu ponho todo mundo aqui dentro. As licenças nós entregamos pessoalmente, para eles verem que aqui a casa é deles.
SG - É para facilitar, não é para dificultar.
GF - Sim, este é um governo que mudou completamente a dinâmica, está trabalhando com gente nova. Sem olhar pelo retrovisor, é daqui para frente.
Plano Diretor
SG - Eu sei que esse hábito de se olhar no retrovisor não é uma coisa muito saudável, mas o fato é que vocês chegaram aqui e encontraram uma situação, que é essa história do Plano Diretor e da Lei de Uso e Ocupação de Solo.
RM – Em relação ao Plano Diretor, isso é fruto de uma intervenção do Ministério Público. Esse tema está sendo objeto de análise pelo Poder Judiciário. Houve duas decisões que impactaram de forma brutal a realidade de negócios imobiliários na nossa cidade. A legislação atualizada possibilitava a verticalização com elevada a taxa de densidade concentrada em diversos locais. Essa legislação, num primeiro momento, foi suspensa, fazendo com que se restabelecesse a legislação imediatamente anterior, de 2022. Acontece que a própria Procuradoria e o MP entenderam que seria caso de solicitar também a suspensão da legislação anterior.
Essa situação demorou três meses para ser analisada, e resultou nessa segunda decisão de seguirmos a legislação de 2008. Isso gerou um atraso, sobremaneira no licenciamento das atividades. Na primeira, parou geral. Nessa segunda, o que era renovação nós mantivemos em função da compreensão de que é um direito adquirido da empresa. Sobre as novas licenças, o estudo de viabilidade no endereço pretendido é agora conforme a legislação de 2008.
SG - E vocês chegaram a sentir uma certa desconfiança do investidor?
RM - Cotia reúne todas as condições propícias para um crescimento acima da média nos próximos 10 anos. Você tem obra de mobilidade em andamento, você tem grandes áreas, você tem mão de obra, faculdades e escolas técnicas, como o Instituto Federal que está chegando. Acesso às rodovias que estão em volta da cidade. Localização. Cotia vai bombar, essa é a realidade.
Eventos
SG - O que a gente percebe de fora são esses eventos que a Secretaria está promovendo. Isso tem dado resultado?
RM - Tem dado resultado. Cotia não possui ainda uma comunidade empresarial organizada. Isso impede que você desenvolva políticas públicas para determinado segmento de atividade, porque você não conhece os anseios da condição presente. Quando a gente optou por desenvolver esse conjunto de eventos, a gente enxergou a seguinte perspectiva: Eu preciso mostrar para o empresário que a cidade está atenta para esse desenvolvimento e para a necessidade de um senso de união.
SG - De identidade de Cotia, né?
RM – Sim, olha só, Cotia se destaca em alguns setores econômicos, químico, fármaco, cosmético e serviços. Mas você não consegue entender quais são as demandas específicas de cada setor se você não se comunica com eles. Os eventos têm gerado resultado. As pessoas já têm tido interesse de entender o que Cotia tem para oferecer para o empresariado.
Incentivo fiscal
RM –Temos ainda o estudo em andamento de uma lei de incentivo fiscal de um projeto que visa aumentar os prazos de vigência e renovação de licença, redução de valores de taxas para a instalação de empresas. Isso atrai empreendedor.
Feiras livres
GF - Isso tem que ser gradual, né? Tranquilo. Quando você muda, a mudança é sempre traumática. Vou dar um exemplo. Nós estamos organizando a feira, porque a feira está com a gente também aqui.
SG - As feiras livres, sim, eu vi um chamado para cadastrar, para recadastrar.
GF - Isso, eles têm que ter uma licença de funcionamento. Eles têm que entender que a gente não quer trazê-los para complicar a vida deles. A gente está incentivando que eles formem uma cooperativa, uma associação.
RM - Fazemos o evento com a finalidade de comunicar uma intenção e sentir a reação. Isso já gera resultado, já tem um projeto de um banheiro definitivo na Feira. Nós também estamos mapeando outros espaços na cidade para levar novas feiras.
O Agro é Alvo
GF - Nós fizemos uma reunião lá nos Mendes uns dois meses atrás, com os agricultores. Os produtos saem daqui de Cotia, vão para o Ceasa, depois compramos e trazemos para Cotia. O que está aqui. Vai e volta. Estamos propondo um entreposto em Caucaia, que vai ajudar muito o agricultor. As cidades vizinhas também vão usar esse entreposto. Ibiúna, Piedade, São Roque. Vargem Grande.
RM - A gente também está mapeando as atividades agrícolas junto com a equipe da Secretaria de Turismo para fazer um roteiro agrícola de Cotia, como uma atividade apta a atrair visitantes. Nós vamos fazer o empreendedorismo do turismo agrícola em Cotia.
SG - Aí é resgate da história de Cotia também. Com a Cooperativa, a CAC.
RM - É a vocação daquela região. Existe o interesse do CEAGESP em vir para cá porque ele vê que Cotia fornece 18% da linha de hortifruti do que se consome na Grande São Paulo.
A Conversa como desejo
SG - Uma pergunta que eu sempre faço para o secretário também é sobre a canetada. Se você tivesse, assim, um poder que você pode usar uma vez só: que decisão que você tomaria? Que canetada que você daria?
GF - Isso aí fica difícil. A minha canetada seria para trazer as pessoas aqui para dentro e falar “Olha, estamos aqui, precisamos de você, a cidade precisa de você.” Eu sou da conversa. Procuro escutar, gosto de escutar. Minha vida inteira foi assim. A minha canetada seria isso. Nossa, não são eles que precisam de nós, nós que precisamos deles. Porque eles movimentam a cidade. Meu serviço sempre foi em rua. No guincho, cada hora eu sempre conversava com cada pessoa.
RM - Estamos focados no agro, na indústria, no comércio, nos serviços. E no microempreendedor. Vai ter política para cada um desses eixos. Vai ter um tratamento específico, isso fica como um legado para a cidade. De que o empreendedorismo, a atividade empresarial na cidade tem uma visão específica para cada área. Esse é o nosso grande marco.