15/05/2025
Uma manhã de sábado com muito conteúdo e um diálogo
relevante sobre presente e futuro da região que escolhemos para viver. Assim
foi o Granja Viana em Perspectiva – Diálogos para um Futuro Sustentável,
evento idealizado pelo Site da Granja que reuniu cerca de 80 convidados, no
Cineflix do Open Mall The Square. O objetivo deste encontro foi fomentar o
diálogo entre moradores, representantes do poder público e especialistas sobre o
futuro da região, uma vez que o Plano Diretor 2024, foi suspenso pelo Tribunal
de Justiça de São Paulo (TJSP), devido à sua inconstitucionalidade. Ou seja, a
cidade ganhou uma nova oportunidade para rever sua vocação e o bairro da Granja
Viana de ser, novamente, um dos grandes protagonistas desta causa, que impacta
a vida de todos que vivem na região.
O evento começou com um café da manhã oferecido pela
padaria Trilha do Pão. Em seguida,
aconteceu a segunda exibição na tela do cinema do minidocumentário Caminhos
da Granja Viana (assista aqui), que aborda a história, os desafios do bairro e
mostra que mais do que ruas e construções, são as pessoas que definem os
caminhos de uma comunidade. Foi aí que nasceu o projeto Granja Viana em
Perspectiva – Diálogos para um Futuro Sustentável, que tem como propósito
ampliar a conversa, trazer conhecimento e promover mudanças efetivas, de forma
planejada, para que as pessoas possam viver com segurança e conviver com a
natureza de uma forma sustentável.
Para tanto, foi formada a mesa de diálogo após a exibição,
mediada pela jornalista Marcia Lima, da TEM Comunicação, com a participação do
secretário da Habitação de Cotia, Airton Amaral; do jornalista Maurício Orth; do
urbanista Ivan Carlos Maglio; do geógrafo Marcos Ummus; do empresário do setor
imobiliário Caio Portugal e dos ativistas Monika Sengberg e Fábio Sanches, que
representaram as entidades locais como a Associação de Moradores da Granja
Viana (AMOGV), o Coletivo Pan Verde e o Transition Granja Viana (TGV). A
conversa foi guiada por duas perguntas centrais, onde cada participante passou
seu ponto de vista como especialista e como morador da região. A primeira foi “Como o novo Plano Diretor
pode garantir o equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação
ambiental, respeitando a vocação verde e o perfil atual da Granja Viana?” e
a segunda “Como construir mecanismos efetivos de escuta e
participação popular que influenciem de fato as decisões sobre o futuro do
bairro?”
E destas perguntas destacamos a fala de cada participante e o conteúdo incrível gerado neste primeiro encontro. São eles:
Airton Amaral,
secretário da Habitação, posicionou-se de forma contundente contra as invasões,
mencionou o uso de drones em apoio ao Ministério Público e falou sobre os
processos já em andamento no município. No entanto, seu maior alerta foi sobre
os impactos das obras previstas na Nova Raposo. “Temos um outro problema para
pensar, junto com o Plano Diretor e tudo mais que está em discussão: uma
intervenção gigantesca, que é a Nova Raposo, que vai mudar sobremaneira a
locomoção em Cotia, um dos maiores desafios do município.”
Caio Portugal
defendeu um novo Plano Diretor baseado em diagnóstico técnico, pois a cidade de
Cotia tem desafios enormes e diferentes realidades em seus bairros. “Desde
1981, todos os planos esqueceram algo simples: o diagnóstico. A primeira coisa
é usar instrumentos técnicos para isso, existem tecnologias e ferramentas que
farão toda a diferença na construção de um plano bem elaborado.”
Fábio Sanches
criticou a ausência de dados sobre Cotia e seus bairros. “Não sabemos o que vai
acontecer com o nosso bairro. No Pan Verde, não conseguimos produzir documentos
sobre a Granja porque simplesmente não há dados e precisamos começar a gerar
este conteúdo.”
Monika Sengberg
destacou a mobilização da sociedade civil. “Nunca vi uma mobilização como essa.
Estamos falando hoje graças ao ativismo dos grupos da região. A sociedade civil
pode apoiar com parcerias, convênios. Precisamos ter mais diálogo entre os
municípios vizinhos, pois juntos podemos mais.”
Ivan Maglio, urbanista, enfatizou
a urgência climática. “Estamos em emergência climática. Não dá para pensar o
Plano Diretor apenas com foco em expansão urbana. É preciso planejar para a
sustentabilidade e resiliência dos bairros e da cidade como um todo. E o mais
importante é definir a cidade que queremos”
Maurício Orth,
jornalista, propôs uma visão ecológica e descentralizada. “Cotia é ‘poli’, com
vários núcleos. Isso a aproxima de um pensamento ecológico. Não há poder
central na ecologia — cada região importa para que o todo funcione.”
Marcos Ummus resumiu sua fala em
três pontos. “Primeiro, o desmatamento e enfatizou a importância de ampliar o
olhar para além da reserva do Morro Grande e observar a Mata Atlântica da
região. Segundo, a gestão da cidade em relação à capital e os motivos pelos
quais as pessoas escolhem morar na cidade de Cotia. E o terceiro, o impacto da
rodovia Raposo Tavares na qualidade de vida das pessoas.”
Diálogo com o público
Após o diálogo, o público teve a oportunidade de fazer
perguntas para os especialistas, mas devido a quantidade e o tempo do evento, foi
feito um sorteio. As demais questões estão com o Site da Granja que tentará
responder todas juntos aos especialistas.
Mas as duas escolhidas abordaram temas relevantes. A primeira perguntou
sobre a Reserva Florestal do Morro Grande, o posicionamento da prefeitura sobre
invasões, loteamentos clandestinos e crimes ambientais. O secretário afirmou
que é absolutamente preservacionista. “Então não, não se mexe em reservas. Invasões
precisam ser coibidas, crimes precisam ser julgados e temos que ser implacáveis neste sentido. Não podemos negligenciar”, afirmou.
A segunda pergunta foi sobre compensação ambiental no
município, mas o que gerou controvérsias foi a a efetiva participação popular
no Conselho do Meio Ambiente de Cotia. O
Site da Granja esclarece que, embora o Estatuto do Conselho determine uma
composição paritária (50% poder público, 50% sociedade civil), na prática a
Prefeitura define quais entidades podem participar e escolhe seus
representantes — sem qualquer processo democrático como votação ou assembleia.
Assim, o que deveria ser um espaço de participação acaba sendo centralizado e compromete
o espírito democrático da proposta.
O evento foi promovido pelo Site da Granja, com assessoria
da TEM Comunicação e apoio da Padaria Trilha do Pão, Cineflix, N-Multifibra e
da produtora Curta Ideia. Para Marcia Lima, que mediou o primeiro encontro, foi
dada a largada para um projeto muito maior, onde o conceito de “vamos trabalhar
juntos” ganhará relevância e irá permear um novo momento para Cotia. “Foi muito
mais que um encontro, nós criamos um novo jeito de enxergar o meio que vivemos.
Nós escolhemos esta cidade para morar e temos plena capacidade de reunir um
time técnico e formado por especialistas, que junto com o poder público, começaremos
a escrever uma nova história. Nós precisamos levar esta discussão para outras
esferas, e com inteligência e muito trabalho, tenho certeza que daqui a uns anos,
vamos colher os frutos”, afirma.
Já Thereza Franco, idealizadora e responsável pela realização
do evento, o encontro trouxe à tona um sentimento coletivo de que a discussão
precisa continuar. “Não vou encerrar, porque este diálogo tem que continuar.
Quando fizemos o documentário, ficou muito claro para mim a importância do
nosso bairro na busca por uma cidade melhor, onde a natureza precisa ter seu
espaço garantido e as pessoas segurança para viver. Obrigada a todos que
participaram e apoiaram este evento e vamos para o próximo”, concluiu. Thereza
está à frente do Site da Granja há 25 anos, participa ativamente do Transition
Towns Granja Viana e é a correalizadora do documentário que deu vida a este
grande encontro.
Fotos: Prime Photo Art
Confira o evento na íntegra