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Morro Grande Gigante: A série

24/04/2025


Pesquisa e texto: Mauricio Orth  / Contribuições:  Ana Alcantara


A Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG) corre enormes riscos. São invasões, queimadas, caça, visitas irregulares, pouca fiscalização, além de ameaças da expansão imobiliária, ocupações indevidas, degradação do entorno e a incerteza do novo Plano Diretor. Essa floresta, que é 1/3 da área de Cotia, e responsável pelo abastecimento de água de cerca de 450 mil pessoas, nunca esteve tão vulnerável!


A Sabesp, responsável pela área, foi privatizada pelo Governo do Estado e suas intenções são desconhecidas. O Lote Nova Raposo ameaça a zona de amortecimento da floresta, enquanto o patrimônio histórico e cultural da Vila Operária está desmoronando há muitos anos! 

O Site da Granja pesquisou e inicia uma série de matérias sobre esse que é o maior patrimônio de Cotia e uma preciosidade para Humanidade.

Episódio 1: Milhões de anos de história e números da Mata Atlântica

A história da Mata Atlântica começou há 50 milhões de anos. Ao longo desse tempo, a floresta passou por períodos de fragmentações e expansões, por conta das Eras Glaciais. Quando o clima ficava muito frio e seco, a Mata sobrevivia em refúgios. Eram os “Refúgios (ou Redutos) Florestais”, onde a biodiversidade evoluía de forma isolada, para depois novamente se expandir e retomar a seus territórios. Essa é a teoria mais aceita pela comunidade científica para explicar a enorme biodiversidade das florestas tropicais, publicada pelo geólogo alemão Jurgen Haffer em 1969. Para se ter uma ideia, a Mata Atlântica abriga uma diversidade maior que a de alguns continentes inteiros. A estimativa é de que mais de 20 mil espécies vegetais vivem nessa Mata. A América do Norte conta com 17 mil espécies e a Europa, 12,5 mil. 

Escrita em 1560 por Padre Anchieta, a carta de São Vicente descrevia assim a Mata Atlântica: "Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies", escreveu o padre jesuíta.

A Mata Atlântica é também muito importante em seu aspecto socioambiental. Ela abriga cerca de 70% da população brasileira (mais de 145 milhões de habitantes) e algo perto dos 80% de seu PIB. Não podemos esquecer ainda de que sete das nove maiores bacias hidrográficas brasileiras estão na Mata Atlântica. O que sobrou de vegetação preservada protege rios e nascentes, garantindo o abastecimento de água para a população. Suas florestas ajudam na regulação do clima e proteção do solo. Nela, várias espécies são usadas na alimentação, obtenção de madeira e como matéria-prima para a fabricação de medicamentos e cosméticos.

O uso e remoção descontrolados da Mata Atlântica têm causado grandes impactos. Hoje, restam apenas 24% da floresta que existia originalmente, sendo que só 12,4% são florestas maduras e bem preservadas. Uma pesquisa do IBGE de 2022 avaliou 11.800 espécies desse bioma e concluiu que 24,1% delas estavam ameaçadas de extinção, entre fauna e flora. Cotia pode fazer uma importante contribuição neste sentido: garantir a existência da Reserva Florestal de Morro Grande, que representa um terço de seu território. É preciso monitorar e recuperar a floresta, além de fortalecer a legislação que a protege. Por que?

No início do século 20, toda essa área era ocupada por fazendas, com uso agrícola e pastagens. Nos anos 1910, uma seca e a poluição do rio Tietê, que era responsável por parte do abastecimento da capital, levaram à decisão de criação do Sistema Alto Cotia, com a construção de duas barragens: “Cachoeira da Graça” (1914-1917) e “Pedro Beicht” (1927-1933). Assim, o governo estadual desapropriou os 10.870 hectares que cobriam a área da bacia hidrográfica formada pelas cabeceiras do Rio Cotia. Esta desapropriação permitiu então a regeneração da Mata Atlântica, formando assim a Reserva. Ela ganhou o título de “Reserva Florestal de Morro Grande” por leis estaduais e tombamento. Parece muito, mas não é o suficiente. Para assegurar sua permanência, é necessário enquadrar a Reserva ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Esta batalha jurídica será assunto de outro episódio  em breve. Por enquanto o que importa é saber que um  levantamento científico detalhado sobre o que tem essa Floresta era de extrema importância. E foi o que aconteceu no início deste século.

Episódio 02 - Pesquisadores, doutores e suas descobertas.

Em 2000, um grupo de pesquisadores vinculado ao programa BIOTA/FAPESP, em projeto coordenado por Jean Paul Metzger, finalmente botou a mão na massa (ou na floresta). Metzger é Professor Titular de Ecologia na USP. Mestre e doutor em Ecologia da Paisagem pela Universidade de Toulouse, França, desenvolve desde 1995 pesquisas de conservação da biodiversidade em paisagens fragmentadas na região da Mata Atlântica brasileira.

 Ao longo de cinco anos, uma equipe com cerca de 45 pesquisadores e estudantes obteve dados sobre a classificação dos seres vivos e processos ecológicos do Morro Grande. Para a surpresa do grupo, além de muita diversidade, foram registradas as primeiras ocorrências de algumas espécies no estado de São Paulo, assim como a identificação de quatro espécies novas. 

A região onde se encontra Morro Grande é considerada por muitos autores como uma das áreas de refúgio do Pleistoceno, o nome que se dá para a tal Era Glacial. Geógrafo renomado, Aziz Ab’Saber citava textualmente a região serrana de Caucaia como um possível "refúgio alto-montano" em 1992. Essa hipótese sustenta que Caucaia do Alto teria sido um desses redutos. Desta forma, é ainda mais importante sua preservação total e efetiva, por conta dessa situação única de relevo e biodiversidade tão pertinho de São Paulo, uma das regiões mais populosas do planeta.

Ferrenho defensor da Natureza, Aziz Nacib Ab’Saber morava na Granja Viana desde 1972. Nascido em 1924, entrou na USP aos 17 anos, onde trabalhou como jardineiro, para cursar Geografia e História. Em 1946, se tornou especialista em geografia física. Ao longo de 70 anos, estima-se que tenha escrito mais de 500 trabalhos. Por sua influência, algumas  regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo (serra do Japi) se tornaram áreas protegidas. Ab’Saber morreu em 2012 e completaria 100 anos em 2024. Conhecedor como poucos do território brasileiro, Ab’Saber foi um dos precursores da Teoria dos Redutos (ou dos Refúgios). 

Um dos membros do grupo de Metzger compartilha da mesma opinião:  Eduardo Luis Martins Catharino, graduado em Engenharia Agronômica pela USP, é mestre e doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas e pesquisador científico do Instituto de Botânica. Catharino tem experiência na área de Recursos e Engenharia Florestal, com ênfase em áreas de Conservação. Ele é coautor de um artigo desenvolvido em 2022 e publicado no Journal of Environmental Protection,  que procurava entender melhor a importância da conservação de florestas maduras.

Nesse sentido, o artigo chega a uma conclusão: Em áreas até duas vezes menores, as florestas maduras apresentam de 1,5 a 4,3 vezes mais espécies endêmicas da Mata Atlântica e até 9 vezes mais espécies ameaçadas de extinção em comparação às florestas jovens. Como sobraram muito poucas florestas maduras, o Morro Grande se torna ainda mais uma Reserva de muita relevância para a conservação.  Agora comprovadamente, não só porque é mais velha, mas também porque é mais rica.

Profundo conhecedor da RFMG, Catharino foi indagado pelo Site da Granja: “Podemos estimar uma porcentagem de mata madura na RFMG?”

“É pequena essa percentagem. Creio que na época estimamos mais ou menos em 300ha... mas todo o entorno destas é importante para permitir repovoamento e conservação dos trechos maduros. A riqueza de espécies da Reserva se deve muito ao fato da existência desses trechos... Alguns estão próximos aos limites externos e ameaçados pela presença de loteamentos, entrada de pessoas para extração de palmito e plantas ornamentais, bem como para a caça.” Respondeu.

Imagens: observamorrogrande.com.br e SOS Mata Atlântica



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