03/09/2025
O prefeito de Cotia, Welington Formiga (PDT), usou as redes sociais para contar, no dia 30/08, que está estudando uma novidade ousada para a mobilidade da cidade: a implantação de um Aeromóvel, um sistema de transporte leve sobre trilhos em via elevada, com tecnologia 100% nacional.
Formiga e o secretário Márcio Dola estiveram no Aeroporto de Guarulhos para conversar com Paulo Sayão e visitar o Aeromóvel, que vai ligar os três terminais do aeroporto com o terminal ferroviário da linha 13 da CPTM. Paulo é diretor da P. Sayão Consultoria Ltda, representante do Aeromóvel em São Paulo, juntamente com Projeto 34 Arquitetura e Engenharia Ltda, do arquiteto Flaminio Fichmann, um dos maiores consultores em mobilidade urbana deste país. Paulo Sayão foi responsável pela construção da primeira linha do Aeromóvel feita no Brasil, mais precisamente em Porto Alegre, há 42 anos. Na publicação, o prefeito deixou claro que anda preocupado com a demora para o Metrô finalmente chegar a Cotia, pela futura Linha 22-Marrom. Por isso, defendeu que o Aeromóvel pode ser uma solução mais rápida e barata.
“Cotia e região podem se tornar a locomotiva do Estado de São Paulo, mas precisamos de investimentos. O Metrô pode levar 10 anos para sair do papel. Já o Aeromóvel pode virar realidade em 4 ou 5 anos, com custo menor”, afirmou Formiga.
Dez anos? Pode ser 20. O Site da Granja conversou com Paulo Sayão. Ele prefere ser apresentado como morador da Granja Viana há mais de 40 anos. Profissionalmente, é engenheiro civil com vasta experiência em obras de infraestrutura urbana, portuária e rodoviária. Sua trajetória inclui obras emblemáticas, como o Complexo Aricanduva — então a maior intervenção da Prefeitura de São Paulo -, o primeiro trecho da hidrovia do Rio Tietê (aprox. 300 km), além de trechos de metrô em São Paulo e Belo Horizonte, Porto de Sepetiba (o maior porto de granéis do mundo na ocasião), e pontes sobre os rios Tietê, Pinheiros e Paranapanema, além de boa parte das grandes pontes e viadutos da cidade de São Paulo. Foi diretor de grandes empresas construtoras, onde liderou importantes projetos civis em vários setores de infraestrutura.
O Aeromóvel
“O Aeromóvel é uma Invenção de Oskar Coester, grande empresário e engenheiro gaúcho, de saudosa memória, com o qual tive a honra e o privilégio de trabalhar”, diz Sayão. Ele começa a ganhar espaço como alternativa para a mobilidade na região da Raposo Tavares. Com custo estimado em apenas 20 a 25 milhões de dólares por quilômetro — cerca de dez vezes mais barato que o metrô —, o sistema promete entregar eficiência com preço reduzido. Além disso, o prazo de implantação é um diferencial: como as estruturas são pré-moldadas e instaladas em grande parte durante a noite, depois de aprovada, a linha poderia ficar pronta em dois a três anos, sem paralisar a rodovia. Tendo em vista as futuras obras da Nova Raposo, a importância da implantação do Aeromóvel chega a ser indispensável.
Do ponto de vista político, o projeto também avança. O prefeito de Cotia, Formiga, demonstrou entusiasmo imediato. “Formiga se mostrou um homem de visão e corajoso e já se mobiliza para apresentar a proposta de Cotia ao governador.”, disse Sayão. A boa receptividade, somada ao baixo custo e à agilidade na execução, coloca o Aeromóvel como uma alternativa concreta e viável para aperfeiçoar a questão da mobilidade no eixo oeste da Grande São Paulo.
Site da Granja (SG) – Qual é a importância do contato com o governador nesse projeto?
Paulo Sayão (PS) – Fundamental. A palavra final é sempre dele, porque a Raposo Tavares está sob a administração do governo estadual. Ele foi o grande responsável pela contratação do Aeromóvel no aeroporto de Guarulhos quando ministro da infraestrutura no governo Bolsonaro. O Aeromóvel ganhou uma concorrência internacional para a instalação do sistema de transporte no Aeroporto de Guarulhos. O então ministro fez questão de se respeitar o resultado da concorrência e contratar o Aeromóvel.
SG – Vocês já falaram especificamente sobre Cotia?
PS – Com ele, ainda não. Mas já conversamos com o prefeito e com a Ecovias, que até levou diretores para conhecer o Aeromóvel em Guarulhos. A empresa e entende a necessidade, mas não quer provocar mudanças no contrato sozinha neste momento.
SG – E a famosa linha 22-marrom do metrô, que ligaria a Estação Sumaré a Cotia?
PS – O metrô fez os estudos, mas a conclusão é clara: a demanda daqui de Cotia não justifica um sistema de alta capacidade. Seria viável um de média capacidade, como o Aeromóvel. Além disso, o desempenho de construção do metrô tem sido de cerca 1,5 km por ano de obras. Para fazer os 34 km até Cotia, seriam 20 anos. Já com o Aeromóvel, poderíamos encurtar a linha para 20–25 km, conectando Cotia diretamente ao metrô Butantã, e concluir em 2 a 3 anos.
SG – E em termos de área e desapropriação?
PS – Zero. O Aeromóvel pode ser implantado majoritariamente pelo eixo central da rodovia. Diferente do alargamento da Raposo, que exige desapropriações, nosso sistema não mexe em nada.
SG – O prefeito Formiga pareceu animado?
PS – Muito. Disse: “Vamos amanhã!”. Foi visitar o Aeromóvel e adorou. Revelou-se um prefeito de visão, mas ficou convencido de que precisamos apresentar juntos ao governador.
SG – Em Guarulhos, o Aeromóvel passou por testes longos. O que houve?
PS – O contrato exigiu padrão SIL-4 de segurança, superior ao do metrô (que é SIL-3). Isso significa a probabilidade de ocorrência de um acidente fatal a cada 100 mil anos, ou seja, ínfima possibilidade de ocorrência! Por isso os testes são repetitivos e demorados. Já devíamos ter inaugurado há mais de um ano. Agora, em setembro, deve ficar liberado para passageiros. A inauguração poderá ocorrer em qualquer data posterior, a critério do Governo Federal, dono da obra.
SG – Algumas críticas apontam que o terreno da Raposo, com rochas, declives e curvas, seria um obstáculo.
PS – Não procede. Isso é problema que poderia afetar o metrô, que é subterrâneo. O Aeromóvel é aéreo, em via elevada sobre pilares simples, mais leves que fundações de prédios. Ele tem condições de vencer rampas superiores a 7% e faz curvas de raio de 20 a 25 metros, coisa que nenhum outro sistema ferroviário consegue. O monotrilho, por exemplo, não faz bem. Aliás, o fracasso do monotrilho em São Paulo tem prejudicado a imagem de qualquer transporte aéreo. É bom deixar claro que o Aeromóvel não tem nada a ver com aquilo.
SG – Como funciona, tecnicamente, o Aeromóvel?
PS – O veículo não tem motor em seu interior. O motor está fora dele. A transmissão de energia é feita via pneumática. Como não carrega o motor, não tem tração nas rodas. Ele é empurrado por ar insuflado dentro da viga-guia, como um barco à vela. Isso o torna superleve, o que faz com que a estrutura que o suporte seja também superleve. assim consequentemente, ele fica muito mais barato de se implantar. Trata-se de um veículo superleve sobre trilho em via elevada.
SG – E em termos de capacidade de transporte?
PS – O metrô carrega em média 40 a 50 mil passageiros por hora por sentido. O Aeromóvel, de 20 a 25 mil passageiros por hora por sentido. Metade, mas suficiente para a demanda local em Cotia, com custo dez vezes menor.
SG – Quanto custa, então, implantar uma linha?
PS – O metrô custa entre 250 e 300 milhões de dólares por quilômetro. O Aeromóvel, 20 a 25 milhões. E a tarifa para o passageiro seria a mesma cobrada pelo metrô, integrada ao bilhete único.
SG – E quanto tempo levaria para construir?
PS – Em Porto Alegre, chegamos a construir 1 km em 3 meses, há 42 anos. Hoje, com técnicas mais avançadas, seria ainda mais rápido. Em Cotia, faríamos as fundações à noite, sem afetar o trânsito. Somente as faixas contíguas ao canteiro central seriam interditadas das 21h:00 às 05h:00. As demais faixas sempre ficarão liberadas. Durante o dia, todas as faixas estarão sempre liberadas.
SG – Quantas estações estão previstas?
PS – O recomendado é a cada 800 metros ou 1 km, como no metrô. O passageiro nunca ficaria a mais de 500 metros de uma estação.
SG – Há possibilidade de ramais para Carapicuíba e/ou Itapevi?
PS – Perfeitamente possível. Itapevi tem o dobro da população de Cotia, então um ramal faria sentido. Isso precisa de estudos de viabilidade, mas já há interesse local, na medida em que esses municípios já são servidos por linhas férreas.
SG – E o que o senhor gostaria que ficasse registrado sobre sua visão?
PS – Mais do que engenheiro, falo como morador preocupado. A Raposo sem obras já é um caos. Com obras, pode virar um inferno, como há 50 anos, na primeira duplicação, quando Cotia foi esvaziada por conta do estrangulamento da Raposo Tavares. Na minha visão, o sistema de transporte de massa deveria preceder as obras rodoviárias.
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