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Onda de calor, seca e incêndios criminosos devastam São Paulo e Cotia

11/09/2024



Não só São Paulo, mas o mundo todo: As ondas de calor e as secas intensas assolam o planeta. O Brasil arde em chamas - já são mais de 5 mil focos de incêndio em todo o País. Se em maio o Rio Grande do Sul ficou quase inteiro debaixo da água, em setembro São Paulo sufoca sob uma espessa camada de poluição.

Entrevistado pelo Estadão, o ambientalista Carlos Nobre declarou “Estou apavorado. Ninguém previa isso; é muito rápido.”

Carlos Nobre construiu grande parte da carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e também foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ambos federais. Para ele, todos os biomas brasileiros estão severamente ameaçados e alguns deles, como o Pantanal, podem até mesmo deixar de existir em algumas décadas.

Primeiro brasileiro a integrar o grupo Planetary Guardians (ou Guardiões do Planeta), que reúne pesquisadores para estudar a catástrofe ambiental, ele vê diferenças entre as chamas que se espalham e o que é registrado em outras partes do mundo, como Estados Unidos, Canadá e Europa.

Incêndios Criminosos

Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem.” Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos. “É uma guerra e temos de começar a combatê-la.”, diz Carlos Nobre.

Denúncias em Cotia comprovando a afirmação

Em relato publicado no Cotia & Cia, na tarde dessa segunda-feira (9), um incêndio em uma área de mata na Estrada das Piteiras, no cruzamento com a Estrada Carlos Antônio Pereira de Castro, no bairro Pitas, se alastrou rapidamente. De acordo com testemunhas, o homem que ateou fogo no mato estava com blusa de capuz preto, bermuda cor beje e segurava um saco preto. Os moradores afirmam que o incêndio foi “criminoso e orquestrado”, já que parte do mato próximo às redes de transmissão de energia estava úmido, justamente para as chamas não atingir a fiação. Sem alternativa por conta dos bombeiros estarem sobrecarregados, os próprios moradores conseguiram controlar as chamas e evitar que o fogo atingisse algumas casas. Uma viatura dos Bombeiros chegou no local, mas só depois de o fogo ter sido controlado.

O incêndio da rua dos Agrimensores

 Na rua dos Agrimensores, há 5 dias, as informações relatavam uma caminhonete preta passando pelo mato ateando fogo.  Marina Inserra, do Instituto AdoteDog,  com mais de 130 mil seguidores e com suas instalações ao lado do incêndio, publicou vídeo das labaredas e, aos prantos, dizia “eles avisaram que iam fazer isso” , dentre outras lamentações. O Site da Granja entrou em contato com ela e até o momento da redação desta matéria não obteve resposta.

Aliás, enquanto da redação desta matéria, o Site da Granja já recebeu mais um vídeo indicando incêndio na Av. São Camilo, perto da Fazendinha, já em Carapicuíba. Entre o incêndio da Rua dos Agrimensores até agora foram pelo menos 06 denúncias de incêndios.

“Esse é o máximo que já experimentamos. A crise explodiu. Temos a maior temperatura que o planeta experimentou em 100 mil anos. Desde que existem civilizações, há dez mil anos, nunca chegamos nesse nível, em que todos os eventos climáticos se tornaram tão intensos e muito mais frequentes. São secas em todo o mundo, tempestades, ressacas e, agora, a explosão desses incêndios.” Diz Carlos Nobre. Ele continua:

“Infelizmente, não é só aqui. No ano passado, tivemos grandes incêndios no Canadá, nos Estados Unidos, no sul da Europa. A diferença é de que lá o fogo foi causado por descargas elétricas. Aqui não: praticamente não teve nenhuma descarga elétrica. Entre 95% e 97% são causados pelo homem. A seca e as temperaturas elevadas estão diretamente relacionadas às mudanças climáticas. Isso ajuda o fogo a se propagar. Mas os incêndios são criminosos.”

Fim do Pantanal em 2070

O Estadão pergunta: "Na semana passada, a ministra Marina falou que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível, que o perderíamos até 2100. Concorda? "

"Marina Silva (Ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070. Para ter ideia, a Caatinga já avançou 200 mil quilômetros quadrados pelo Cerrado. Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, um clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano. O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com temperatura a 2,5ºC da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago.", diz Nobre, que complementa: 

"Mesmo que aceleremos as reduções (de emissão de carbono), o aumento da temperatura média do planeta vai ultrapassar os 2ºC, podendo até chegar a 2,5ºC em 2050. Mesmo que começássemos a remover 5 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano da atmosfera, lá por volta de 2100 voltaríamos a um aumento de 1,5ºC.”

Em São Paulo aumento de mortes por síndrome respiratória

São Paulo tem 76 mortes por síndrome respiratória aguda grave. De agosto à primeira semana de setembro, a cidade de São Paulo registrou 1.523 notificações por Srag (síndrome respiratória aguda grave) e 76 óbitos. Os números coincidem com o aumento dos incêndios que atingem quase todos os estados brasileiros desde a segunda metade de agosto.

Ricardo Martins, secretário-geral da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) explica que a fumaça pode provocar o desenvolvimento de doenças respiratórias equivalente aos usuários de cigarros e cigarros eletrônicos, como inflamações pulmonares e das vias aéreas.

Problemas como bronquite aguda, quadros de sinusite, conjuntivite e até infecções de pele são esperados em cenários como o atual, com alta das queimadas.

"O produto da combustão que é inalado pode ter mais de 5 mil substâncias e algumas delas podem gerar o agravo na saúde. E a longo prazo, essas doenças podem se desenvolver para uma doença crônica, do tipo de quem fuma ou trabalha em um ambiente insalubre de trabalho, como na indústria da cerâmica ou mineração", explica Martins.

Atear fogo é crime

Viu fogo? ligue 193 

Viu alguém colocando fogo em perímetro urbano? ligue 194 

Viu alguém colocando fogo próximo a estradas? Ligue  191

Usar o fogo em locais proibidos é crime e a pena é  de 2 a 4 anos de prisão.  

 


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