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Crônicas de Sonia Marques

(asdfg hjklç) Diploma de Datilografia

18/11/2024



Pegue aí seu notebook, programe o cronômetro do relógio para um minuto e comece a digitar o que você quiser. Mas atenção, não vale olhar para o teclado! Quantos toques você conseguiu atingir nesse tempo? 50, 80, 100…?

Fazendo faxina nas minhas gavetas, encontrei o meu certificado de conclusão do Curso de Datilografia. O ano era 1990. No ano anterior eu havia concluído e Ensino Médio, que na época era Colegial e, com isso, almejava conseguir um bom emprego.

Sou de uma época em que ter um diploma de Datilografia era muito importante para a ascensão profissional, sobretudo se você visasse uma carreira de bancário ou secretária (eu não pretendia seguir nenhuma delas, mas precisava trabalhar).

Mas para mim, ter concluído o curso de Datilografia e atingido a meta de 190 toques por minuto tem um sabor especial. Porém, este texto não é sobre uma conquista minha, e sim sobre como todos os dias uma pessoa preta ou afrodescendente “escurinha” tem que vencer o racismo neste país (que pela primeira vez na história do Censo do IBGE, se declara mais pardo).

E lá fui eu, com minha Carteira de Trabalho disputar minha primeira vaga num escritório de uma empresa metalúrgica, que ficava pertinho de minha casa, na Granja Viana (Cotia).  Os proprietários, imigrantes gregos (e brancos) que se deram muito bem em nosso país sem nunca terem sofrido algum tipo de discriminação por serem estrangeiros. Até então, pretos ou pardos por ali, só no chão da fábrica ou na faxina.

Detalhe: meu irmão mais velho já trabalhava na empresa, era responsável pelo setor de informática, mas sempre foi “clarinho” e minha mãe preta trabalhava na faxina, posição que até hoje é reservada para as pretas, na maioria das empresas.

Preenchi a ficha sob os olhares tortos do selecionador que fez questão de dizer que eu era muito “escurinha” para trabalhar no escritório. Penso que ele tenha dado sequência ao processo seletivo apenas para depois poder dizer que me deu uma chance, certo de que eu não conseguiria. Sentei-me à mesa, com a máquina de escrever elétrica que eu nunca tinha visto na vida e bateu aquele frio na barriga. Ele então iniciou o ditado (bem rápido) de uma carta comercial.

Rá!! Teste concluído com sucesso, sem olhar no teclado e sem erros de Português!

A vaga de Auxiliar de Escritório estava há muito tempo sem ser preenchida porque as candidatas brancas não eram aprovadas nos testes de Língua Portuguesa e Datilografia e, a partir daquele momento, seria da “escurinha”  mesmo,  dado a necessidade de uma auxiliar que soubesse escrever a máquina sem “catar milho”.

Por algum tempo, o meu chefe racista teve que me engolir, mas me sentia testada todo o tempo. Todos os dias tinha que fazer algo para provar que era capaz de ocupar aquela vaga no escritório.

Minha permanência na empresa foi uma experiência importante, primeiro pela satisfação de ter feito meu selecionador engolir o seu racismo e, segundo, pelos conhecimentos adquiridos terem me preparado para novas empreitadas profissionais.

Eu deixei a empresa depois de ter sido promovida a Auxiliar de Contas a Pagar e ter acesso a algumas informações financeiras que me deixaram revoltada. Uma delas foi a descoberta de que o valor do almoço do meu patrão era maior que o meu salário de um mês inteiro.

Quase 30 anos depois, o valor dos almoços dos patrões continua sendo igual ou maior que os salários de seus funcionários em muitas empresas.  O racismo? Esse também continua nas empresas, no transporte, em todos os lugares.


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Sonia Marques

*Sonia Marques, Jornalista, poeta e cronista. Sou apenas mais uma na multidão, com uma história parecida com a de tantas Marias e tantos Joãos. Sou cidadã em construção.

Essa e outras crônicas no blog reconversa.com.br

Fale comigo: contato@reconversa.com.br


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