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Gente e Patrimônio da Reserva do Morro Grande sob ataque

22/05/2025


Mauricio Orth

Vila operaria sofre demolição parcial

Água

Construída entre as décadas de 1910 e 1930, a Vila operária do DAE abrigou as pessoas responsáveis pela construção da Estação de Tratamento do Alto Cotia, da Barragem da Cachoeira da Graça e da Represa Pedro Beicht, fundamentais para o abastecimento da capital paulista, o motivo da criação da Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG).

Na manhã da sexta-feira (09/05), a Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, iniciou a demolição de casas nessa antiga Vila. Em um dia, uma retroescavadeira conseguiu derrubar dez casas e destruir o encanamento existente.

A retroescavadeira voltou na semana seguinte, mas foi impedida de continuar a demolição. O Jornal Tablóide, responsável pelo furo de reportagem, trabalha sob o mesmo CNPJ do Conselho Nacional de Defesa do Cidadão, o Condec, que atua principalmente em defesa de direitos sociais. O Condec entrou com uma representação no Ministério Público, imediatamente aceita. A denúncia foi encaminhada para análise e investigação. Enquanto isso acontece, a demolição está suspensa. O jornalista/ativista responsável pelo jornal e este CNPJ é Cloves Ferreira de Oliveira.

O Site da Granja (SG) esteve no local para averiguar: pessoas que trabalham na Sabesp disseram, em condição de anonimato, que outras casas não iriam ser demolidas, que a função social dos imóveis que foram derrubados estava distorcida e  que já estavam em ruínas. Disseram ainda que não iriam demolir mais nenhuma, talvez o Grêmio.

"Vai caçando Rumo Já"

Em conversas com moradores, a versão é diferente: Luana Aparecida dos Santos (LAP) mora na Vila do DAE há seis anos, tem 39 anos e três filhos:

SG  - Você ocupou a casa também?

LAP - A casa eu comprei do pessoal da Sabesp mesmo.

SG - Mas sem nenhum documento?

LAP - Sem nenhum documento, o que você tem é o pagamento que você faz via pix. A gente vem em busca de um sonho, o da casa própria. Meu sonho era que a daqui fosse tombada, que pudesse ser um patrimônio histórico. Só que assim não vai ter mais nada pra se ver aqui.  Eles (funcionários da Sabesp), já avisaram que querem derrubar tudo e que saia todo mundo. Eles querem o terreno vazio. Se eles derrubarem tudo, vai ter o quê de histórico aqui?

SG – O que mais que eles avisaram?

LAP -  Da água, que vão fechar de novo, eles vão cortar e vão deixar sem, que falou um palavrão bem grande, né? “F*da-se se vai ficar sem ou não.” falaram que tem que derrubar mesmo. E já falou pra todo mundo,  assim, “Vai caçando rumo já!”. Até agora não chegou nada judicial, né? Mas eles ficam colocando “apavoro” nas famílias, tem família com gente cadeirante aí pra cima, gente acamada que já estão tudo preocupado.”

Sobre o assunto, o Site da Granja enviou perguntas por e-mail ao setor de Comunicação da Sabesp e até o momento da redação deste texto, não havia recebido retorno. 

A questão socioambiental

Essa infeliz coincidência aconteceu na véspera da publicação da terceira matéria sobre o Morro Grande, na medida em que a pauta já estava definida para focar na questão social. Na primeira matéria, vimos  a questão biológica, sobre o papel fundamental das matas maduras, antigas, na regeneração do ecossistema. Na segunda, vimos sobre a importância da lei para assegurar sua existência futura, como Unidade de Conservação. Agora focamos nas pessoas.

É possível conservar uma biodiversidade sem participação social?

“Não se faz conservação só com ambientalistas, pesquisadores e advogados. Se a sociedade, seja ela representada por moradores do entorno ou pessoas em governos e empresas que influenciam naquele espaço não estiverem engajadas, há grandes riscos para quaisquer iniciativas nesse sentido”. A fala é da coordenadora de projetos do IPÊ  - Instituto de Pesquisas Ecológicas, Cristina Tófoli.. Com sede em Nazaré Paulista (SP), o IPÊ é considerada uma das maiores Organizações da Sociedade Civil (OSCs) do Brasil, hoje com 30 projetos. Ele começou com o Projeto Mico-Leão-Preto, em 1984, no Pontal do Paranapanema.

O Site da Granja publicou em 16/05, o abaixo-assinado feito para que o tombamento do Condephaat (1981) também incluísse a Vila, com texto de quem conhece muito sobre o assunto: Cristina Soutelo, professora e pesquisadora, graduada em História pela USP e doutora em História Social pela PUC-SP. Moradora de Cotia, ela atua há mais de duas décadas como docente na rede pública e privada de ensino, atualmente dando aulas na região do Butantã.

Em seu doutorado, ela desenvolveu pesquisa sobre o patrimônio cultural da Vila Operária do DAE. Ela contou com a participação ativa da comunidade local e resultou no Inventário Participativo do Patrimônio Cultural do Morro Grande, bem como na produção do documentário “Desejos de Memória – A História da Vila DAE e da Reserva Florestal do Morro Grande” (2021), junto com Damaris Ferreira, Gabriela Carvalho e Beatriz Senechal, contemplado pela Lei Aldir Blanc. Desde 2019, Cristina coordena o Coletivo Ecomuseu Morro Grande, reconhecido com a certificação como Ponto de Memória pelo Ministério da Cultura.

“É simples, minha história com a RFMG começa quando eu mudo pra cá (1996). Não só a Reserva, mas o Sítio do Padre Inácio, o Sitio do Mandu, Igreja Nossa Senhora  de Monte Serrat, a Congada, né? esse patrimônio cultural de Cotia que é tão rico. Apesar do crescimento desordenado, ele resiste e eu espero que isso continue a acontecer com a RFMG. E tem uma questão aí que é importante:  Eu não acredito em patrimônio sem comunidade. Assim que cheguei me deparei com alguns moradores, os antigos trabalhadores do DAE. Foi um encanto mútuo né? Daí veio o título “Desejo de Memória”. porque logo de cara ele vieram  me contar as histórias de onde moravam, onde nasceram, cresceram, estudaram, construíram... foi isso!"

Patrimônio Centenário

A Vila do DAE tem mais de um século de histórias para contar. Fabricou seu próprio tijolo, construiu um campo de futebol com medidas idênticas ao campo do Pacaembu, foi “o Parque Ibirapuera de Cotia” segundo relatos, recebendo muita gente em vários ônibus pra desfrutar das piscinas e piqueniques nos finais de semana. Criou Escola, o primeiro cinema de Cotia, desenvolveu uma economia circular para sua autossuficiência. Gerou muito orgulho e sensação de pertencimento a todos que por lá passaram.

Por conta deste lamentável evento da demolição, as histórias que o Site da Granja separou ficarão para uma outra matéria, a ser publicada em breve.

Por enquanto, vale voltar ao assunto do abaixo assinado, que reivindica a inclusão da Vila no tombamento de Condephaat. Sobre isso, segue adiantado um pedaço dessa história. Aqui um trecho da ata da reunião do Condephaat com Oscar Telles, então presidente da Sabesp, em 03/09/80:

“O Presidente da SABESP informa que algumas casas existentes serão alienadas por política adotada na SABESP. 0 CONDEPHAAT esclarece que esse fato não trará ne nenhuma alteração ao tombamento, mas, que, nas escrituras dessa alienação trará o Gravame do Tombamento.” Dito e feito. O Artigo 29 do Tombamento foi assim escrito: “Ficam excluídas de tombamento casas e instalações técnicas já existentes, devendo ser cientificado o CONDEPHAAT sobre novas alterações a serem introduzidas na Reserva.”

Rodolfo Almeida, ambientalista, ex-presidente da SEAE - Sociedade Ecológica Amigos de Embu, membro do movimento Salve Embu, do comitê de bacia do Alto Tietê e diversos conselhos ambientais da região, assim comentou:

“A preservação da Reserva do Morro Grande é uma prioridade, A destruição da Vila do DAE representa uma ferida aberta na preservação histórica, pois é um constante lembrete para as gerações mais jovens verem que tudo isso só existe devido à luta pela preservação da região.”


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