13/06/2025
por Ana Alcantara
Desse cenário nasceu um novo termo: “trânsitofobia” — o medo ou estresse de encarar o tráfego intenso. Ir e voltar de São Paulo, fazer retornos para atravessar a rodovia dentro de Cotia, virou rotina insustentável, agravada pela falta de investimentos em transporte público e melhorias viárias locais.
Agora, com o projeto “Nova Raposo”, a promessa de modernização da rodovia chega junto com 12 praças de pedágio e um cronograma de obras previsto para durar 9 anos. Mas se a Raposo já não flui hoje, como será em obras?
Movimento “Nova Raposo, Não”
Diante disso, surgiu em maio de 2024 o movimento suprapartidário Nova Raposo, Não (NRN), organizado por moradores e entidades civis para exigir transparência, participação popular e alternativas sustentáveis. Entre as preocupações: desapropriações, danos ambientais, ausência de transporte coletivo eficiente e falta de diálogo público.
A pressão levou o caso ao Ministério Público, que acatou a denúncia. Enquanto isso, o movimento promoveu 3 seminários técnicos e 4 oficinas, entre abril e maio de 2025, reunindo mais de 300 participantes, incluindo especialistas, moradores e autoridades.
Essas oficinas identificaram demandas urgentes, ignoradas pelo Estado. Vale lembrar que, até agora, só duas audiências públicas foram realizadas — ambas fora da área mais impactada, com público total inferior a 60 pessoas. O lote "Nova Raposo", do km 12 ao 34, foi arrematado pela Ecovias. A partir do km 34, o trecho “Rota Sorocabana” ficou com a CCR.
Oficina Intermunicipal e a inteligência coletiva
A oficina realizada no dia 28/05, na AETEC Cotia, reuniu moradores de Cotia, Embu das Artes e Vargem Grande Paulista, com cerca de 40 participantes, incluindo poder público e OSCs da região. Estiveram presentes: Marcos Nena, Secretário de Mobilidade e Transportes de Cotia, Silvio Cabral, Secretário de Desenvolvimento Social e Periferias, membros da Secretaria de Meio Ambiente e do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Cotia
O destaque foi a apresentação do engenheiro Silvio Roberto de Arruda Leme, especialista em trânsito com 47 anos de experiência na CET-SP, SMT-SP, e ex-secretário de Transportes e Trânsito de Cotia. Silvio defendeu a implantação de um BRT (Bus Rapid Transit) ao longo da Raposo como alternativa eficaz, econômica e com menor impacto socioambiental
“O modelo atual da ARTESP prevê 50 metros de alargamento da pista. Com o BRT centralizado, precisaríamos de apenas 10 metros, o que reduz drasticamente as desapropriações”, explicou Silvio. A proposta contempla o BRT no canteiro central, do km 34 até o metrô Butantã ou Vila Sônia.
Uma necessidade levantada no evento foi a criação de bolsões de estacionamento em pontos estratégicos, permitindo que o motorista deixe o carro e continue o trajeto de transporte coletivo. Também foram sugeridas conexões, neste mesmo modal, com as linhas de trem de Carapicuíba e Itapevi.
Outras Soluções Debatidas:
• Conexões viárias locais: túneis e viadutos entre bairros, especialmente nos kms 23 e 30, para facilitar a mobilidade sem usar a rodovia.
• Transporte local de verdade: linhas de vans que liguem bairros afastados aos centros e pontos de interesse.
“Precisamos do modal local que não há. Meios de transporte menores, circulando pelos bairros. Não é abrir grandes vias para corredores e sim múltiplos modais locais”, apontou a engenheira e conselheira de meio ambiente Lenita Medeiros.
• Carona solidária segura:
“Aplicativos de carona, como um Blablacar seguro e controlado pela cidade, podem reduzir o número de veículos na Raposo”, sugeriu a jornalista Paula Medvedeva, durante uma das rodas de conversa.
• Rejeição à nova ligação Cotia–Embu: prevista no projeto, a nova rodovia atravessaria áreas de manancial e proteção ambiental.
“Os riscos de uma catástrofe ambiental com essa ligação são irreversíveis. A quem servirá essa via?”, questionou Rodolfo de Almeida, ambientalista e ex-presidente da Sociedade Ecológica Amigos do Embu (SEAE).
Pedágio: Ter ou não ter?
A cobrança de pedágio preocupa e dividiu opiniões. Enquanto alguns consideram que vias pagas recebem melhor manutenção, outros afirmam que o alto IPVA já deveria cobrir essa função. Alguns participantes defendem a isenção para moradores de Cotia e Vargem Grande Paulista, caso o projeto avance.
Propostas do Movimento
As oficinas e seminários consolidaram um conjunto de propostas equilibradas entre mobilidade, justiça social e sustentabilidade:
• Princípio geral: reduzir ao máximo danos ambientais e sociais.
• Curto prazo: implantar faixas reversíveis nos horários de pico.
• Médio prazo: corredor exclusivo de ônibus (BRT).
• Longo prazo: metrô ou VLT com capacidade para até 35 mil pessoas/dia.
• Financiamento: taxa de congestionamento revertida em melhorias locais.