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Conexões Humanas e Saúde Mental

Adultização e Sexualização Infantil: Uma Realidade Urgente e Intragável

20/08/2025




Nos últimos dias, muito se tem falado sobre adultização e sexualização de crianças e adolescentes, especialmente após a exposição do tema pelo influenciador digital Felca (Felipe Bressanim Pereira). Trata-se de um assunto importante, urgente e intragável — mas que precisa ser enfrentado.


O que é adultização?

A adultização ocorre quando se atribuem a uma criança ou adolescente papéis, responsabilidades, comportamentos ou características próprias da vida adulta antes do tempo adequado para sua idade e estágio de desenvolvimento. Esse fenômeno é considerado uma forma de violência psicológica, pois rouba da criança o direito de viver plenamente a infância, interferindo em seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social.


O que diz a lei?

O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), estabelece princípios claros para proteger crianças e adolescentes contra qualquer prática que viola seu direito ao desenvolvimento integral, à proteção e à dignidade.

Segundo o Estatuto:

Nenhuma criança ou adolescente pode ter violada a sua integridade física, psíquica ou moral;

Deve-se assegurar o respeito à imagem, identidade, autonomia, valores, ideias e crenças;

Família, sociedade e poder público são corresponsáveis por garantir condições de liberdade e dignidade ao longo do crescimento.


Riscos invisíveis e silenciosos

Ao analisarmos de perto a realidade, percebemos que as crianças nunca estiveram tão expostas quanto agora. As redes sociais se tornaram palcos silenciosos de exposição precoce, onde imagens e comportamentos adultizados são facilmente disseminados e consumidos. O resultado é grave: uma criança submetida à adultização tem alto risco de se tornar um adulto psicologicamente adoecido e disfuncional. Afinal, ela não possui maturidade neurológica nem recursos psíquicos para lidar com críticas, rejeições ou a pressão de corresponder a padrões irreais.


Ainda na infância, a criança pode estabelecer padrões de pensamento e desenvolver crenças de que não é suficientemente boa ou de que precisa constantemente performar para ser aceita e amada. Esse processo pode gerar uma confusão de identidade, uma vez que a antecipação de papéis rompe com o curso natural do desenvolvimento. Como consequência, há um risco aumentado para o surgimento de psicopatologias, entre elas os transtornos ansiosos, o transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de personalidade e a depressão, condições às quais um cérebro traumatizado se torna especialmente vulnerável. A criança submetida à adultização tem seu sistema neurológico sobrecarregado pelo estresse, o que pode comprometer regiões fundamentais do cérebro. O hipocampo, estrutura responsável pela memória e pelo aprendizado, pode apresentar prejuízos, assim como a amígdala, área relacionada à regulação das emoções, incluindo medo e ansiedade.


Além disso, há risco de impactos no desenvolvimento do córtex pré-frontal — região que amadurece plenamente apenas por volta dos 25 anos —, ocasionando dificuldades de autorregulação, controle da impulsividade, tomada de decisão, juízo crítico e manutenção da atenção. Esse conjunto de alterações pode levar a um padrão de funcionamento cerebral voltado para um estado de alerta constante, característico de um organismo que opera em modo de sobrevivência.


Por que não percebemos antes?

A adultização nas redes sociais não é novidade, mas após a fala de Felca, o tema ganhou novas perspectivas. Muitas vezes, o público não percebe a gravidade devido à normalização: pareceu engraçado, fofo ou talentoso. Mas, para além da impressão imediata, crianças expostas dessa forma, se tornam vulneráveis às pessoas mal-intencionadas.


Uma reflexão necessária

Diante desse cenário, cabe a nós — sociedade, famílias e profissionais — zelar pela proteção da infância. O preço dos “likes” e da exposição pode ser devastador. É urgente repensarmos o que compartilhamos, incentivamos e consumimos. Criança precisa ser criança. O palco e a performance não podem substituir o brincar, o afeto e o direito de crescer em segurança.


Caroline T. Naconesky

Psicóloga Especialista em TCC

Especialista em Neuropsicologia - CRP 06/141850


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Caroline T. Naconesky

Neuropsicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental especializada no atendimento de adultos, adolescentes e orientação parental.
@carolnaconesky.psi/

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