05/09/2022
A cela foi fechada com violência. O jovem prisioneiro olhou em torno e viu uma cama de pedra com um velho colchão e uma coberta suja, um banheiro sem porta, um pequeno chuveiro e uma privada. Ele fora condenado a três anos de prisão por chefiar uma facção radical, que lutava pela libertação de seu país, dominado havia centenas de anos por uma poderosa nação estrangeira. Fora educado na Europa, onde aprendera os costumes do Ocidente, sua força e sua fraqueza. Chegara a hora da revolução e ele estava pronto para dar sua vida por esse ideal.
Os primeiros meses se passaram. Todos os dias ele fazia horas de ginástica e repetia slogans revolucionários para manter o corpo forte e saudável e suportar melhor o isolamento, as noites mal dormidas e a comida ruim. Tinha apenas um dia da semana com uma hora de sol ao ar livre. Neste momento de puro prazer ele se mantinha distante dos outros prisioneiros, pois não queria se misturar com criminosos comuns: assassinos, ladrões, traficantes, estupradores.
Um dia, entretanto, enquanto contemplava o belo céu azul da manhã, um velho prisioneiro de olhar penetrante e sorriso amável se aproximou e disse: “Não procure fora o que está dentro ou nunca será um homem verdadeiramente livre”. E virando as costas se afastou. Estas misteriosas palavras calaram fundo na mente e no coração do revolucionário. Quando chegou novamente o dia de sol ele se aproximou do estranho homem e pediu um esclarecimento sobre a curiosa afirmação. O velho, então, caminhou com ele pelo pátio explicando que não conhecemos nossa verdadeira identidade porque não temos nenhum poder sobre nossos pensamentos e emoções e vivemos apenas para satisfazer nossos inúmeros desejos até morrermos como pobres e tristes escravos.
Os encontros semanais de uma hora no pátio da prisão foram suficientes para criar uma relação de confiança e amizade entre os dois homens. O jovem aprendeu pouco a pouco a arte do verdadeiro conhecimento e utilizou seu tempo na prisão para o seu próprio aperfeiçoamento. Em cada encontro recebia orientações de exercícios meditativos e outros que trabalhavam o corpo, a mente e a emoção, ao mesmo tempo. Ganhou livros que continham a essência de ensinamentos muito antigos, histórias de um outro mundo. E assim os três anos de cadeia passaram voando, plenos de experiências e descobertas incríveis. Agora ele sabia por vivência direta que a verdadeira revolução acontece de dentro para fora e não de fora para dentro, como sempre acreditara.
Nunca a saída de um prisioneiro causou tanta surpresa, pois o jovem despediu-se de todos com simpatia e respeito. A revolta e o ódio de sua chegada tinham se transmutado em gratidão e compaixão, pois agora ele via com clareza a dramática situação de seus semelhantes, vítimas inconscientes da ignorância e da ilusão. Ao se despedir de seu velho instrutor prometendo visitá-lo sempre que possível, este, rindo, respondeu: “Não perca seu tempo comigo, aqui é o meu lugar, onde posso ajudar outras pessoas como você a se libertarem”.
Muitos anos se passaram e hoje o antigo revolucionário se tornou um dos maiores mestres espirituais da humanidade, um ser luminoso que revolucionou os corações de milhares de pessoas e que também contribuiu para a libertação de seu país em uma luta sem tréguas pelo caminho da não violência, da não agressão. Sem disparar um tiro ele acertou o Alvo.
Carmem Carvalho e Marian Bleier
Toda quarta-feira, das 19h00 às 20h30, o Grupo se reúne virtualmente para vivenciar os Ensinamentos de Gurdjieff, o grande mestre espiritual, com Marian Bleier e Carmem Carvalho. Os interessados podem comunicar-se através do
E-mail: marianbleier@gmail.com
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