04/04/2023
(da Série “Contos do Despertar”)
Antônio estava sozinho no apartamento, um mês após o falecimento de sua esposa, quando a campainha tocou. Ao atender, deparou-se com uma mulher sorridente de meia idade, cabelos ruivos, vestida com uma minissaia preta, blusa bem justa e decotada, vários quilos a mais e um perfume adocicado que assustou até o cachorro. Ela o abraçou longamente e, com voz rouca, murmurou em seu ouvido:
Oh Toni, querido, meus sentimentos!... Que tristeza ficar viúvo tão cedo. Vim de longe só para lhe trazer o meu carinho. Será um prazer tomar um cafezinho em sua companhia e lembrar os bons velhos tempos.
Antes que o homem respondesse, ela foi entrando pela sala e depois de um longo suspiro, desabou sobre a primeira poltrona que encontrou. Olhou então para o dono da casa, que parecia surpreso e irritado, e continuou:
Sou a Betina, não se lembra? Sei que mudei um pouco, mas ainda sou a mesma garota da faculdade de Direito, por quem você foi loucamente apaixonado. Sempre me senti culpada por ter casado com outro homem, que logo foi embora e nem sei mais por onde anda. Já me arrependi mil vezes da escolha errada!... Mas agora que estamos sozinhos podemos recuperar o tempo perdido. Eu trouxe a foto do Baile de Formatura, quando dançamos juntos de rosto colado, para revivermos o momento.
Antônio olhou a fotografia e viu um jovem magricelo que tinha uma vaga semelhança com ele e lembrou-se daquela linda garota dos sonhos de todos os rapazes da classe. Sem dizer nada, preparou um café bem quente, serviu a visitante e sentou-se no sofá do outro lado da sala, saboreando sua xícara, em silêncio. Então, com calma e simpatia, disse:
Confesso que havia esquecido completamente da história de nosso relacionamento 40 anos atrás. Alguns anos depois, quando comecei a trabalhar, conheci minha esposa e vivemos juntos um amor sincero e uma vida normal, sem grandes problemas, com dois filhos carinhosos e sucesso profissional. Sinto muito decepcioná-la, mas o tempo passou, não sou mais aquele rapaz e você não é mais aquela garota. Não podemos voltar no passado como nos filmes românticos.
As lágrimas rolavam pelo rosto de Betina. Ficaram em silêncio durante vários minutos, cada um com suas lembranças. Então, com uma voz diferente que parecia vir de outro mundo, ela desabafou:
Os homens foram passando pela minha vida enquanto meu corpo era jovem, bonito e sensual. Agora estou sozinha, sem marido, sem família, sem dinheiro. Você era minha última esperança de recuperar o tempo perdido em uma vida fútil e manipuladora. Eu nunca o esqueci e estava pronta para lhe dar tudo o que não dei há 40 anos e fazê-lo feliz.
O relato comoveu o coração de Antônio, que se lembrou das palavras de seu mestre: “Compartilhe sempre o alimento divino com todos aqueles que cruzarem o seu caminho.” Então, antes de se despedir, ele conversou com Betina sobre um lugar que conhecia há muitos anos e que iluminara a sua vida e de sua esposa e finalizou, dizendo:
Se você perdeu as ilusões sobre si mesma e o mundo e se sente completamente triste e vazia, então é o momento perfeito para buscar uma verdadeira ajuda. Nosso encontro aqui, hoje, pode mudar seu destino e ser o início de uma realização muito maior que todos os sonhos e experiências que já viveu.
Dessa vez, Betina não perdeu a oportunidade e, passo a passo, dia a dia, desenvolveu a liberdade de ser e a alegria de viver.
Carmem Carvalho e Marian Bleier
Toda quarta-feira, das 19h00 às 20h30, o Grupo se reúne virtualmente para vivenciar os Ensinamentos de Gurdjieff, o grande mestre espiritual, com Marian Bleier e Carmem Carvalho. Os interessados podem comunicar-se através do
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