15/09/2025
(da Série Contos do Despertar)
Havia muito tempo os seres de
inteligência e consciência mais elevadas no Universo; habitantes de Karataz,
estavam preocupados com a vida humana na Terra. Chegava até eles uma atmosfera
quase irrespirável de violência, confusão, loucura e sofrimento. Ouviam os
gritos de pessoas implorando por ajuda e salvação.
Reunidos em assembleia, decidiram enviar
o embrião de um ser de Karataz para o ventre de uma jovem de grande bondade e
beleza que acabara de se casar com um homem mais velho, sábio e justo, que
vivia em uma região de altas montanhas.
O bebê nasceu saudável, alimentado
pelo leite do amor materno e a força e gentileza da educação paterna, crescendo
de forma admirável, com espantoso vigor e inteligência. Seus pais, entretanto, viviam
preocupados com um hábito que distinguia o filho dos outros meninos da aldeia.
Tanto no verão como no inverno, após
o jantar, ele sempre corria para um lugar isolado esperando a noite chegar,
para contemplar o céu estrelado. Ao voltar, ele abraçava a mãe, sussurrando em
seu ouvido: “não sou deste mundo, eu vim das estrelas”.
O tempo passou e o menino se tornou
um jovem e depois um homem, cercado de uma grande família e muitos afazeres
materiais, mas suas noites continuavam iguais. Era atraído pelas estrelas do
céu noturno e ficava ali sentado, imóvel, em silêncio, contemplando.
Os que conviviam com ele percebiam
uma constante e tranquila transformação, como se um alimento sagrado tornasse
aquele ser cada vez mais sábio, forte e amoroso, iluminando a vida de todos ao
seu redor.
As plantas que ele tocava cresciam e
floresciam belas e perfumadas, os animais domésticos procuravam seu carinho e
proteção e os selvagens se aproximavam com cuidado e respeito. E os pobres, os
loucos, os doentes e desvalidos chegavam de todos os cantos, atraídos pelo
farol de luz de sua misteriosa presença.
Até que, um dia entre os dias, ele
desapareceu, sem deixar o menor vestígio de sua passagem neste mundo.
Mas sua lembrança permaneceu intacta e
os habitantes do lugarejo construíram um templo, com o teto feito de um
material muito fino e transparente, no mesmo lugar onde o homem vivera seu amor
celeste. Hoje pessoas de todas as partes do mundo visitam o templo para, em
silêncio, contemplar o céu estrelado.
Conta-se - abençoado seja o Eterno! -
que ninguém, depois desta experiência, retorna para a loucura do mundo sem
levar dentro de si uma mente inteligente e lúcida e um coração corajoso, compassivo
e generoso.
Carmem Carvalho